Pic here |
Depois dos cemitérios de Lhanguene e Michafutene, Moçambique abriu um novo cemitério: África do Sul. O povo moçambicano agradece por esse novo espaço. É um cemitério de luxo onde uma vez, duas vezes ao ano, são metidos moçambicanos na vala-comum da xenofobia. Que maravilha! Os moçambicanos crescem em Maputo, Gaza, Sofala e Tete e quando chega a hora de morrer sabem onde fica o nosso novo cemitério.
Os moçambicanos são enterrados em grupos nas ruas e avenidas e por vezes linchados, como hindus, para ocuparem pouco espaço. É um cemitério de luxo onde não se usam pás, mas sim catanas e canivetes, os caixões são substituídos por pneus e o petróleo serve de perfume que se põe aos mortos. Obrigado, África do Sul, pelo novo cemitério. E as televisões sul-africanas transmitem os enterros em directo, porque sabem que somos um povo especial.
É luxuoso esse cemitério; não se emite uma certidão de óbito quando se entra, carimba-se o passaporte. E os enterros acontecem a qualquer hora. O povo sul-africano não é como os coveiros de Lhanguene e Michafutene que descansam quando é meio dia; trabalham sem descanso com suas catanas em todas as ruas. Coitado do povo sul-africano: passa o tempo todo sem descanso enterrando nossos irmãos e nós cá passeando. Os moçambicanos deviam ajudar os sul-africanos nesse trabalho: enviando caixões, flores, mármores, fotografias e nomes dos seus irmãos para facilitar na localização depois dos enterros.
O povo moçambicano agradece por esse novo espaço. Depois de enchermos o Lhanguene e agora engolindo com covas, todos dias, o Michafutene, precisávamos de um novo cemitério. É tão solidário o povo sul-africano que, por vezes, acaba metendo em nossas covas Nigerianos, Quenianos e zimbabweanos. E nós, moçambicanos, devíamos sair às ruas e protestar, pois África do Sul é nosso cemitério particular.
Sérgio Raimundo - Militar