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Eu,
Mbarace, cá em Maputo, mãe Filomena e irmã Nilza lá em Inhambane, isso dói,
isso rói o peito, o corpo inteiro. Lá
no fundo sentia aquela vontade, aquele desejo de tocar com os olhos, aquelas
caras, aquelas... Abraçar aquelas flores que não florescem mas crescem como
plantas e até mais do que as próprias plantas. Sinto a saudade a apoderar-se-me
neste pequeno peito meu, fico a olhar para as vossas fotos e seguro uma lágrima
na cara, cio na soneca no lago das lembranças, e ainda vôo na atmosfera dos
vossos risos e rizadas do outro lado do murro.
Já
agora pergunto-me se vocês ainda se lembram de mim. Enquanto o Mbarace falava
aquelas palavras, o pai, Sr. Mário, ficava no canto do quarto a escutar o seu
pequeno filho que mesmo tendo o pai por perto ainda se sentia só, pela ausência
da mãe e da irmã. Interessante como o coração é selectivo e ganancioso, sempre a
desejar o que está longe e a dar valor ao que está longe e pouca atenção ao que
está perto e menos valor ao que tem.
Lá
no fundo o Mbarace sabia que as coisas não voltariam a ser as mesmas, e que
nunca mais voltaria a sentir a mesma emoção. Era um menino já dos seus dezasseis
anos de idade, já na décima classe, eram cinco anos depois de ter visto a mãe e
a irmã, era uma longa viagem da mente no tempo para lembrar-se das suas doces
rosas.
Eram
350 dias a passar do ano de 2013, já era tempo das férias escolares. O Sr.
Mário leva o seu filho a uma viagem de pai e filho, iam à Inhambane visitar a
esposa, a dona Filomena, e a filha Nilza, que morriam de saudade e ansiedade de
ver Mbarace.
No
caminho, no carro, Mbarace perguntou: –
Pai para onde vamos? O Sr. Mário ironicamente respondeu: – Vamos para onde o destino nos levar. O
Mbarace entendeu que o pai não queria dizer qual era o real rumo da viagem e que
tudo devia ser uma surpresa, daí decidiu não encher o saco.
Um
momento de silêncio governava aquele lugar e estendia-se por todos ares, dentro
e fora do carro. O céu ficou rubro e totalmente sombrio, surgiu uma luz
cadente, que vencia o farol do motorista do carro no fim da estrada. Um cenário
totalmente estranho. O motorista do carro decidiu fechar os olhos e deixar a
onda da viagem levar-lhe ao destino. O carro capotou e levantou-se três vezes
na mesma posição inicial. Mbarace gritou por umas quatro vezes, acordando
qualquer vizinho naquela área. O pai veio a correr ao quarto do miúdo, e
encontrou-lhe a chorar. Mais uma vez, Mbarace teve um pesadelo.
Por: Eddy Cacimba,
“O poeta campónio”