2 Poemas para engravidar o tempo - Luís Nhazilo




2 Poemas para engravidar o tempo - Luís Nhazilo
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1. Escrita nocturna


A madrugada flagra-me,

densa e abraçável. E a confundo.

Os mundos são um simples sorriso.

Eu, na dimensão do que sinto,

escrevo pessoas.

Escrevo pessoas nas pessoas que sentem pessoas vivendo dentro delas, e eu, delas, vivo, também. Eu vivo pessoas e vivo nelas, e o tempo nos morre, ainda assim, escrevo-nas

o outro serão, a infindável morte do que vivemos. As pessoas são a madrugada.

A noite é água,

contudo não deixo de ser verso

agitando a alma dos outros,

sou porque escrevo,

e escrevo porque sou Deus.



2. Hoje é passado

Quero renascer, mas preciso morrer-me

 a mim em mim, causar uma morte e, ainda, assisti-la em outra vida.

Preciso antes voltar-me a mim,no tempo que não me existiu e buscar

o que tinha que ser, ou que tenha sido mesmo sem ter tido ideia do que seria

quando fosse definitivamente eu.

Agora, conheço a morte, vivo-na com a mesma inocência da partida do que serei, enquanto me for noutra vida.

Porque o passado me-é  hoje e,

eu, não me espero chegar no ser de mim mesmo, por respeito à minha existência

 e equidade.



Luís Nhazilo
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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