Sobre a Liberdade, por Arcélio Zitha

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O vento soprou e de lá doutro lado do horizonte batuques pariam barulhos ensurdecedores. Vozes tiritavam em meus ouvidos e não mais que repente, em uníssono, gritavam ‘‘viva a liberdade’’. O dia acusava a liberdade. O sol estava frio, mas a agitação aquecia os corpos que carregam aquelas trombetas. A noite estava menos escura, os olhares estavam firmes e unos, no pestanejar das cinco cores do arco-íris. 

Mas o olhar do avô Muzila, denotava uma escuridão enorme, nem sequer a grandeza do sol espreitava sua fronte. Estava tão dissecado, com bónus até de raiva nos lábios!? Indaguei-me. O olhar dele fez nascer outras dores e esquecer certas alegrias, afinal de contas era um ancião, devia estar contente com o encantamento que o arco-íris representava num trapo de seda que dividia o sol em cinco pedacinhos.
Movido pela luz da incerteza, agachei o sorriso, apontei meus passos e aproximei-me para desfazer minhas dúvidas, como desfaço as bolas de neves em meu rosto e sem titubear, perguntei-lhe: Está indiferente a este grito de euforia (liberdade) porquê, meu velho?

Antes que respirasse, ele já lascava os lábios com prontidão e retrucou: 

– Meu filho, eu conheço bem o meu governo. Assim como poetas mentem e enganam quando imortalizam suas ilusórias paixões, às tantas, mentiu para o povo cego e cansado de carregar fardos que não lhes pertenciam e instalaram suas próprias ideologias. Talvez uma forma mais eficaz de agrilhoar ainda as nossas vidas. De que liberdade se está a falar filho, quando os professores ensinam a burrice nas escolas? Quando os polícias atiram em inocentes, enquanto os criminosos passeiam em suas frontes? Quando os médicos e enfermeiros maltratam os necessitados e matam os indefesos? Quando os administradores e governadores administram e governam corruptos? Ah, meu neto, cresça e liberta-te a ti primeiro, pois enquanto viver dentro dos padrões dessa sociedade, a sua liberdade será sempre dependente. Se quiser ser livre meu filho, crie seu próprio mundo e se autogoverne.

«Feliz dia da (in)dependência»

Por: Arcélio Zitha

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