A Psicologia do chapeiro, por Jorge Zamba

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A vida de chapa ensina-nos a ter estratégias para chegar ao trabalho cedo ou ir para casa cedo. Todos nós sabemos que os motoristas de chapa 100 ganhariam ao concurso para ser motorista oficial de um presidente americano. Sim. Os nossos motoristas aqui sabem fazer manobra num espaço que só cabe uma motorizada. Fazem ultrapassagem e ainda gritam para quem tem prioridade. Essas são habilidades de quem devia transportar um presidente do primeiro mundo. Malta Inglaterra, Alemanha e principalmente Estados Unidos de América. Quanto aos nossos presidentes não precisam de motoristas experientes, porque nós confiamos muito neles. Não há chance nenhuma de assassiná-lo à luz do dia. Temos muitas batalhas por enfrentar e a nossa prioridade não é estar preso no Djamangwana ou numa dessas prisões que obrigam o homem a moldar o seu DNA. 

Um dia desses saí do trabalho maningue cansado. Tudo que queria era chegar a casa muitíssimo cedo. Passou o primeiro chapa: P. dos Combatentes/ Baixa. O semáforo fechou e o chapa também respeitou o sinal de trânsito. Parou. Mas, conscientemente aquele local é uma paragem oficial. O motorista desligou a luz dentro do chapa e não se abriu a porta para que nós entrássemos, mesmo assim corremos para lá. Não é novidade nenhuma, à noite, ou seja na hora de ponta, o lugar da frente é completamente VIP: ninguém entra sem a permissão do motorista ou cobrador. O semáforo abriu e o chapa roncou o seu motor e foi-se embora. O chapa estava quase vazio mas os tipos não quiseram levar ninguém naquela paragem. Fiquei confuso porque naquela paragem havia pessoas mais do que limpas. Justifica-se, foi arredores do Maputo Shopping Center. O terceiro. Quarto. Quinto chapa. Ninguém parava ali. 

O sexto chapa também veio completamente vazio. Já éramos dois passageiros na paragem porque outros desistiram daquela paragem. Este último parou. Apanhámo-lo. Ao sinal do semáforo virámos à esquerda em direcção à avenida 25 de Setembro. Como sempre, a velocidade dos chapeiros é de tirar o chapéu. Ou se não tira, o ar que entra pela janela vai se encarregar de o fazer. Chegámos numa outra paragem em quase 40 segundos. Curiosamente, o chapa não parou ali. Havia uma multidão de passageiros desesperados para voltar para casa. Logo ouvi uns murmúrios entre o cobrador e o motorista: 

- Bro, Vamos ensinar estes gajos que também temos valor. Não vamos parar. 

- Então acelera e apaga as luzes. – Concordou o cobrador. 

Chegados à paragem da Ronil já não havia passageiros ali. O cobrador desceu e começou a chamar: 

- Praça da OMM, Saul, Xiquelene, Xiquelene. 

- Praça da OMM, Saul, Xiquelene, Xiquelene.

- Praça da OMM, Saul, Xiquelene, Xiquelene.
Ficámos  mais de 10 minutos à espera enquanto o cobrador chamava pelos passageiros. Um senhor da idade perguntou:

- Vocês deixaram pessoas atrás e preferem ficar aqui enquanto atrasamos? 

O cobrador e mototista não responderam nada ao cota. Continuaram a ouvir música da Anitaaaa, Anitaaaa do grupo Afro Madjaha. Foi ali que eu percebi que para ser chapeiro é preciso ter talento. 

Por: Jorge Zamba

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