Abraços e até já Swazi

Abraços e até já Swazi
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Mbongane Titsuai, nome oficial que meus defuntos reagiram a favor dele aquando do meu nascimento. Segundo minha mãe, muito chorei quando me deram o nome de Felisberto e até foi necessário uma forte intervenção de vazione para perceber-se o que estava acontecendo. Os vazione pegaram um espírito que insistia que me chamassem Mbongane Titsuai. Mas meu pai não quis seguir a tradição e suplicou que me chamassem Felisberto Sitoe. Felisberto é nome dado aos portugueses e herdado por Moçambicanos, apesar de ter nascido em Moçambique e aqui ter crescido, minhas raízes estão em Swazi e tal como uma planta que sem raízes não pode desenvolver assim sou eu neste país. Já há mais de vinte anos me é difícil conseguir um bom emprego e ter uma casa condigna. Na escola sempre fui fraco, aliás nada dá certo na minha vida. Da última vez que fui a uma consulta nas palhotas, o dr. falou-me que tinha que buscar minhas origens para poder caminhar bem. E não dei conta daquilo, para mim era mais uma forma desses Africanos ganharem dinheiro através de mentiras.

Mas com o passar do tempo vejo que a realidade reside em meus olhos e me chama nos sonhos. E nem os milagres dos nossos apóstolos da praça conseguem vencer a vontade dos meus defuntos. Isto é África, agora vejo que quanto mais me faço de forte e de ignorante por não acreditar nos sonhos e nas visitas que meus defuntos me fazem durante as noites incôscias, vou envelhecendo sem nada na vida. Na noite anterior, antes de dormir, tal como o habitual, fiz uma oração profunda, pedindo que Deus me obsequiasse uma casa e um emprego condigno, e durante o sono as mesmas vozes vieram até meus tímpanos e sem cessar diziam " muka kaya Mbongane (vá para casa Mbongane)", despertei do sono e somente Swazi me veio à mente.

Meu pai morreu pobre por não ter seguido as origens. Ele morreu sem saber que éramos Titsuai, mas os defuntos me perseguem e já não vou mais resistir. Que se acalmem os Sitoes, mas a minha vida corre perigo, enquanto aqui. Não vou deixar de vir visitar e nem vou esquecer os bons momentos que aqui vivi. Prova viva de que aquele sonho era real, dia seguinte logo que abandonei a cama, acertei uma bolada simples e me passaram um valor que só dava para pegar chapa e tratar passaporte. Isto é África, os defuntos tem poder. Em quinze dias sai o meu passaporte e tenho fé que chegarei bem na minha casa de origem. Minhas origens falam mais alto, queria tanto continuar aqui, mas minha cultura é aqui condenada acima de tudo. Minhas ex-namoradas, sintam-se perdoadas, pois sei que agora vocês percebem que nunca traí a vocês, estava apenas seguindo a minha cultura, mesmo em Moçambique, minha cultura gritou alto em mim.
Meu rei Swati, acredite que mesmo em Moçambique onde a vida está complicada para aqueles que não tem familiares políticos, eu nunca fui preso. Não será na minha casa que irei pular a lei. Sou teu fã e sua excelência será minha fonte de inspiração.
Abraços e até já Swazi.

Por Jonas Francisco Muchanga
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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