Mulheres moçambicanas à lupa

Mulheres moçambicanas à lupa
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Somos pouco mais de vinte e oito milhões de habitantes e mais de 50% (a metade) são mulheres. Olhar para Moçambique neste 2019 é, no mínimo, desolador. Fecharam-se os olhos de 2018 com a detenção de um antigo ministro das finanças. Abriram-se os olhos de 2019 com este dilema e antes mesmo de terminar este caso, Zambézia, Manica e, principalmente, Sofala sofreram nas mãos do Ciclone IDAI. Cada vez mais aumenta o número de mortos e feridos vítimas do IDAI. Aparecem cada vez mais robustos (aos milhares) os casos de cólera naquela parcela do país. Ainda nas ondas do IDAI, os nossos Mambas sofreram inundações na Guiné-bissau. Um hecatombe que resultou na dramática ausência dos Mambas no CAN 2019, muito por culpa própria, diga-se, em todo o caso, é uma selecção que está a perder o medo e a impor-se cada vez mais nos jogos fora de casa.
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É neste contexto que chegamos a este 07 de Abril (de 2019), dia da mulher moçambicana. Já o disse em fóruns similares a este, que a mulher é a legítima âncora da nossa sociedade. É a mulher que lima os torneamentos comportamentais das crianças, de outras mulheres e dos homens. Não defendemos que a educação da sociedade é uma tarefa exclusiva da mulher, não! Mas se olharmos para o grosso das famílias moçambicanas, notaremos que as mulheres é que passam mais tempo com as hoje crianças e amanhã sociedade moçambicana.

Hoje em dia, teremos nós mulheres com estes condimentos? Temos mulheres capazes de educar uma sociedade? Temos mulheres suficientemente perspicazes para diferenciar preço de valor? Para ao invés de ver na sogra um empecilho, ver uma mãe/amiga? Teremos mulheres capazes e dispostas a construir um lar e não uma casa? Teremos nós mulheres moçambicanas que se orgulham de não trair os seus namorados/maridos? Teremos nós mulheres sensatas o suficiente para gerir imparcialmente as concomitâncias familiares? Olha para o grosso das mulheres actualmente e responda em que aspectos elas são capazes de ser modelo para as gerações vindouras?
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Sem generalizar, não devemos tapar o sol com a peneira e dizer que não existem estas mulheres, existem sim, mas existem também as que não se identificam com tais características. Na verdade sempre existiram disparidades de personalidades, cada um tem a sua forma de agir (principalmente) de acordo com o contexto em que se encontra (social, epistemológico, psicológico). Existem mulheres que constituem grandes modelos para crianças e adultos, para sociedades/nações. Mulheres que lutam, caem, levantam-se, caem, ajudam a outra a levantar-se e continuam a luta. Existem mulheres moçambicanas que são as primeiras a acordar e as últimas a dormir 365 dias por ano, sem feriados nem férias nem fins-de-semana. Existem mulheres moçambicanas que alimentam os maridos hoje velhos e doentes, mas que no passado quando fortes faziam delas, bolas de bofetadas. Mulheres com marcas de chapadas visíveis, marcas e cicatrizes incuráveis e homens que as maltrataram, desprezaram-nas por terem amantes. Mulheres cujo amor suportou ver os seus maridos a acabarem o valor das suas pensões e salários em cabelos para meninas mais novas que os abandonaram quando o bolso se emagreceu. Temos mulheres moçambicanas economicamente estáveis que incansavelmente ajudam orfanatos, vão aos lugares mais recônditos do país e oferecem trabalho e/ou bolsas de estudo para jovens. Temos mulheres moçambicanas honestas, batalhadoras, amorosas, líderes, educadoras.
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Os nomes que atribuímos a estas mulheres, sinceramente vão depender de cada um e do seu íntimo. Ninguém, salvo Deus, é tão sábio a ponto de julgar com tanta veemência o outro. Sois vós, ó mulheres moçambicanas, as apaziguadoras das nossas almas feridas por mazelas de vária ordem. Sois vós o bálsamo que acalenta as crianças de hoje e Moçambique de amanhã. Não pedimos que não aproveitem a vossa juventude (quando a tiverem), mas que a cada passo que derdes, deixeis mensagens e atitudes saudáveis que edifiquem um Moçambique filantropicamente prolífero e com Amor.
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Parabéns, Mulher Moçambicana!
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A Luta continua!
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Jaime Silito
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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