Mas eu, Também, Juro


Mas eu, Também, Juro
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Meu nome é MAS EU. Não tenho ideia dos anos de idade que tenho, mas me pareço com um pouco mais de trinta e tal e poucos anos. E num passado não muito remoto, conheci a TAMBÉM, a mãe do meu primogénito, JURO. Casamo-nos meses antes que JURO nascera a dez de Outubro, como se faz áspero o verso naquele livro sagrado [o homem deixará o pai e a mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão os dois uma só carne]. Uni-me a TAMBÉM, e nos tornamos uma só carne, MAS EU TAMBÉM. Quando JURO nasceu, pusemos-lhe o nome duma Nyanga onde meu falecido pai sempre buscou auxílio para fortificar a deus que pregava na Igreja. Não se é de admirar ou talvez menosprezar. CRIADO era um pastor, sim, e respeitado por todos até pelas autoridades governamentais.

- Deus precisa de ser auxiliado – dizia-me para rematar a minha curiosidade.

Na verdade, pastor CRIADO não era meu pai de me nascer. Diz-se que me achara num depósito de lixo, depois que ouvira meus lânguidos choros quando minha mãe, uma prostituta, na altura adolescente de pouco mais de vinte anos, me largara lá no destino dos ao relento.

Quando me entreguei aos encantos da carne e obedeci aos impulsos da natureza, os mortos paraisiados se demoravam em desenhar a lua. Aquela cavidade enorme nos céus. Os coqueiros oscilavam desde a cintura às extremidades com o soprar que se fazia. A noite era densa. As estrelas se via como pequenos orifícios por onde passavam pingos, para não dizer chuva, como aqui se desacredita que aquilo seja chuva, e sim, há uma crença inequívoca de que esses pingos sejam lágrimas de deus em ondas de prantos.

Quem sabe da verdade? Talvez deus chora agoniado pelas coisas que se acontecem no dia-a-pós-dia!

As estrelas faziam da imensidão do céu escuro transparente como um véu. Avizinhei-me da TAMBÉM no meio daquele bailado das sextas-feiras que aconteciam no bairro e a puxei para debaixo de um cajueiro que cresceu torto. Estava um silêncio profundo, nem um farfalhar se quer, senão os nossos respirares aturdidos. Dei-a um beijo convencional, alias, aquilo não chegou a ser um beijo, talvez um tacto como se eu temesse dalguma coisa como peste. Num repente, desfiz-lhe de tudo, digo, quase não vestia nada, senão uma capulana que transparecia os limites da calcinha, provavelmente vermelha, preta ou mesmo branca como pensara antes de vela, e ficou praticamente reduzida a nada. Tinha pernas maciças que em pouco tempo se derreteram com suor pálido fruto do idioma que se traduzia naqueles prazeres carnais.

Veio-nos o JURO.

No dia que JURO nasceu, uma clara mancha de sol se estendia aos poucos na parede. Vinha, paulatinamente, subindo como uma aranha naquela lassidão de quanto dura o dia. Subia como quem desce. No meio, encontra uma abertura, havia prego. Penetra como quem penetra carnes maciças vaginais, lá no fundo escuro! JURO veio alargar a nossa família. Para além de ser MAS EU TAMBÉM, nos tornamos, MAS EU TAMBÉM JURO. Nós vivíamos em uma casa retirada da urbe, a bem dizer, uma casa desvizinhada como quem inicia um bairro de expansão. Era única casa. Uma minúscula dependência de oito chapas de zinco erguido de pau-a-pique e as paredes costuradas a caniço, e sem janela alguma. Era uma casa sozinhada com nós só. Não se permitia abrir ao mundo. Contudo, tinha uma porta feita de lacalacas de coqueiro que não se podia impedi-la de roçar o desnível do chão e chiar nas dobradiças no abrir e no fechar. Era nessa porta por onde o mundo se prolongava por mais meninos como EU, se encontravam em situações em que o pastor CRIADO não mais vive.


ALERTO BIA
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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