10 Poemas de Mauro da Silva


10 Poemas de Mauro da silva

1.
Faz calor e a minha alma não transpira de poesia,
a esferográfica, muito saudável ultimamente, recusa-se a vomitar num papel branco o que me ocorre nesta nobre ilusão de ser poeta.
Estou como as nossas valas, estou como as águas paradas, estou como uma nação, desmoralizada para continuar a produzir, não que me falte terra para semear alguns poemas e amanhã colher os frutos através das cópias de um segundo livro, não, na minha terra há muita terra por se cultivar ainda, a N1 é testemunha, e não só testemunha isso, testemunha fome, desgraça e descontrasta com a "di-fo-di" dos empregados de um povo indo passar férias em praias que parecem não mais nos pertencer... (mas tudo não passa de incertezas, boatos e murmuros),
toda esta desgraça, talvez seja porque não chove com frequência já há algum tempo, já não há mais lágrimas por se chover, nós estamos contentes com o pouco que temos e que nos roubam, a verdadeira riqueza está nos céus!

2.
Estão umas putas na esquina a fazer o meu coração de bordel
São os nervos à flor da pele
O peito em combustão
E algumas toneladas de pensamentos nucleares pesam-me a cabeça!
Estou farto disto tudo!
Uma vontade atrás de outra, até não mais ter vontade de fazer mais nada.
Como sempre, a sorte vem em antônimos
para acabar com as sobras de ânimos que me sobram no espírito, o corpo desde fevereiro que já se foi.
Sinto saudades daquele papel envolvido nas minhas angústias, a fumá-los com o sorriso daquela mulher, virgem até o momento que se foi embora, o álcool a subir-me a cabeça como um poema sobe a cabeça dos poetas para ter mais vontade de fazer com os outros o que a vida faz com todos
Naquela dependência dormimos todos apertados, cada um com os seus demônios e os meus não são muito sociais, então vou vivendo assim no meio de todos, mas cada vez mais só como o Adilson, temo que tudo fique escuro, temo que tudo fique quente, temo tudo menos um lugar onde reina a paz.


3.


A MENINA DOS LÁBIOS COR-DE-ROSA
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Neste poema, onde de Da Vinci me faço
para pintar-te com a excelência de Pablo Picasso
Vejo na tela ainda por se pintar
lábios virgens de amor perene por se pintar
porém!
Nunca ficará perfeita esta tela
se o semblante dela não ir de encontro com os meus lábios cor de prosa
beijá-la até despir o seu batom à lábios cor-de-rosa
Vejo ainda na tela desta minha pintura
o seu olhar fazer-te a minha futura
e em cada madeixa
desvanecendo em nós a arte do me deixa
Ó! menina dos lábios cor-de-rosa
o tempo passa e me perco em prosa
já não sei se me minto
com os meus sentimentos, eu te pinto em meus pensamentos
apenas sei que desde outrora
e agora
solidão é o que sinto
e se for para ver chegar novamente a aurora
que seja sempre consigo.


4.
Uma gota de lágrima brotou de uma esferográfica que pairava pelas reentrâncias deste bairro da munhuana, a lágrima causou cheia de sentimentos no papel.
Aqui neste bairro, também morram muitas cheias quando o céu se zanga ou se entristece, já não sabemos como babá-lo , se é com o inverno ou verão, com ambos pode chorar.
Cada quarteirão uma fronteira nos separa de água, água da chuva, as lágrimas do céu um pouco mimado.
Tudo isto são detalhes, vivemos assim, há lugares piores, a única cheia que me dói de verdade está no papel, e bastou uma lágrima para fazer estragos.



5.



XITHOFU
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Um papel fatigado de nada
Escorre sobre a sua face meus sentires e
desentires
Desde amo-te aos filhos da puta...
a escrevaninha, meu humilde templo
Um filho meu vem fora do tempo...
achei que já era incapaz de exprimir tinta desta
maneira
Foi o sangue a razão da minha asneira
A lava que saía das pernas daquela mulher, era
impossivel a razão
fecundar...( raios)
Já não se pode esconder, nas mangueiras assaz
as primaveras,
é pecado meu desejar agora um outono,
pois esta folha que pode morrer sobre os seios da
terra, pode ser o futuro deste país.
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6.
O ESPETÁCULO
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Um povo enriquecendo os bancos
Sem divergências entre negros e brancos
formaram-se plateia
para assistir uma grande peça...
- Abriram-se as cortinas!
Ouviu-se um grito de guerra do início ao fim do espetáculo.
- Acordem, acordem, acordem, acordem...
Mesmo assim, na plateia, cada negro ia dormindo e os brancos ficavam estupefactos.
Terminou o espetáculo mas, vivemos todos uma cena terrível.
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7.

CARTA ÀQUELA QUE SE FOI
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Escrevo-te esta carta com mais álcool em mim do que saudades de ti,
Escrevo-te esta carta com a mente embriagada, mas com um sentimento sóbrio
Escrevo-te porque cada gole me leva a ti, esquece de trazer-me de volta à mim e por fim...
Perco-me!
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Perco-me em lágrimas e mais embriagado fico, pois é próspero a nascente que as saudades fazem brotar nos meus olhos, choro-te e deschoro-te noite e dia, com ou sem poesia e bebo dessas lágrimas vazias de álcool mas carregadas de uma paulada maior, você aquela que se foi, você que ao ir-se embora esqueceu-se de dizer adeus ou nem quiseste dizer.
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Contudo ensinaste-me que o dinheiro não compra amor e amor não é apenas para quem tem, e nunca antes de te conhecer pude imaginar que ser pobre é a maneira mais nobre de ser feliz e não existe melhor caminho para se ser pobre a não ser poeta. Obrigado amor, aquele que se foi, mas de mim nunca saiu.
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8.
UM POEMA SEM POESIA?
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Não! Uma saqueta com vários versos por se descascar
Como amendoins que a alma deseja degustar...
Mas se cada verso vir na saqueta já descascado?
Que graça terá?
Se não temerei que o verso caia ao chão ao descascá-lo?
Que graça terá?
Se não temerei que o verso se perca nas avenidas imundas dos meus sentimentos?
Que graça terá, degustar de um poema, uma saqueta cheia de versos cujo quem os assou levou consigo todos sacrifícios que eu podia fazê-los para os levar um por um verso à boca ( com poesia)?
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9.
PRECISO ESCREVER
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Só por escrever
Dizer o que não sei que quero dizer
Libertar o que não sei que está preso.
Preciso andar nestas palavras até que as minhas tintas se cansem, andar ou nadar nestas frases mal compostas,
Tropeçar ou afogar-me se necessário neste texto maldito e mal dito pela minha mera vontade de escrever! Preciso como nunca antes precisei, cessar minha vontade de nada dizer.

10.


ORGASMO

O êxtase,
cume do prazer,
sopé da alma.
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Começa no olhar,
ganha vida no toque.
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Vem suave o desejo
sedento d'um beijo,
mas, quanto mais arde o que mora no peito,
mais é a vontade de apagar o fogo em leito.
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E sem mais jeito
atraindo o orgasmo,
mas o que virá a ser isto?
Orgasmo...
- É saudade bruta que os corpos desejam refinar;
- É o toque entre almas por poucos segundos, a confirmação da existência do paraíso na terra dos que morrem.
Orgasmo é orgasmo, orgasmo é a sincronização de identidades, orgasmo é transformar prazer em uma nova vida capaz de eternizar-lo em nossas vidas e chamarmos filho(a).



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Por: Adilson Sozinho / Mauro da Silva

Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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