Entrevista a Fernando Pessoa - Conversas Além-Mundo


Entrevista a Fernando Pessoa - Conversas Além-Mundo Tenacidade das palavras
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“Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental… vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada…”


São alguns fragmentos do poema intitulado “Tenho tanto sentimento” extraído do livro “Cancioneiro” de uma figura incontornável da literatura lusófona, Fernando Pessoa.

Poeta e escritor, Fernando Pessoa é um ícone da literatura mundial, uma das personalidades imortalizadas pelos apreciadores da literatura clássica portuguesa. É proprietário de um conjunto de obras literárias que integra livros como: Cancioneiro, Mensagem,  Livro do Desassossego entre outros; lembrando que, é dono dos heterónimos: Alberto Caeiro, Álvaro Campos, Ricardo Reis, e Bernardo Soares. Sendo os primeiros três, os mais famosos.

É através desta nota introdutória, que passo a apresentar o nosso primeiro convidado neste espaço de conversa interativa denominado Conversas d'Além-Mundo, o poeta e escritor português e do mundo, Fernando Pessoa.



Quem é Fernando Pessoa definido por ele próprio?
Sou um rei que voluntariamente abandonei o meu trono de sonhos e cansaços…


O que ti leva a pensar que és um rei que abdicou do trono?
Minhas esporas de um tinir tão fútil.


Quando é que começa sua paixão pela literatura?
Não sei, mas meu ser tornou-se-me estranho em meu pensamento no quarto deserto… sobre o chão que é meu. Era dia e longe de aqui...


Longe d’aqui?
No claustro sequestrando a lucidez no meu cansaço perdido entre os gelos, funeral de apelos pela estrada da minha dissonância...


Como define a tua vida?
É um barco abandonado… no ermo porto, ao seu destino falta quem o lance ao mar.


Podemos afirmar que é um solitário?
Não pela minha vista… deixo de me incluir dentro de mim, o deserto está agora virado para baixo… e tiniu no infinito onde jaz alguém morto.


Entendido, considera-se poeta, escritor ou ambos?
(…) Ó Universo, eu sou-te... o poeta é um fingidor, cinzas de ideia e de nome em mim. Eu sou-me… mero eco de mim.


O que ti vem em mente quanto o assunto é o amor?
Há silêncio… um sussurrar que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece (…) que eu sinta… uma coisa certa que nos minta, um grande desejo que nos mente. A alma é viúva do que não sabe, o sentimento é cego.


Quer dizer que não tem opinião acerca?
O sentimento é cego (…) não paira vento, não há céu que eu sinta.


Que sentimento vem na alma quando observas o mundo?
As formas sem forma que passam sem que a dor as possa conhecer ou as sonhar o amor.


É desabafo de um apaixonado que depositou seu amor no coração de uma mulher comprometida ou um amor não correspondido?

A morte chega cedo, pois breve é toda vida o instante é o arremedo de uma coisa perdida. O amor foi começado, e quem tenha alcançado não sabe o que alcançou. E tudo isto a morte risca por não estar certo no caderno da sorte que Deus deixou aberto.


Tens medo do amor?
Não sei, mas sonho sem ver os sonhos que tenho.


De onde é que surge a ideia de dar vida aos teus “eus” (heterónimos)?
Dum porto infinito de grandes navios que largam do cais arrastando nas águas por sombra os vultos ao sol daquelas árvores antigas... no meu espírito, que se levanta e se ergue como um muro.


Sente falta de alguém ou algo que tenha marcado algum período da tua vida?
Amei tanta coisa... quando morreu o vento e a calma nasceu. Hoje nada existe, além do muro da estrada que uma brisa estremece. Não sinto a brisa, não sei se sou feliz nem se desejo sê-lo.


A nossa conversa foi interessante e envolvente, estimei bastante passar alguns minutos contigo. Em jeito de conclusão, que palavras gostava de dizer ao nosso auditório?
O passado não volta, e isto lembra uma tristeza e a lembrança é que entristece o sorriso inútil, que a hora tece como no céu sem gente, a nuvem flutua calma… se esfolha silenciosa como se a tristeza fosse árvore e, uma a uma, caíssem suas folhas entre o vestígio e a bruma.



Entrevistado por Síul Leumas

Referências bibliográficas
PESSOA, F. (2002), Cancioneiro, Cinerfil Literatura Digital, Março de 2002, www.ciberfil.hpg.ig.com.br
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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