Nhellety e Nwetty eram irmãs gémeas, amigas, vestiam as mesmas roupas, brincavam com as mesmas bonecas, faziam tranças idênticas, estudavam nas mesmas escolas, gostavam das mesmas coisas e tinham os mesmos amigos. Moças de família, religiosas, o orgulho dos pais e exemplares na sua comunidade.
Frutos de uma relação relâmpago entre Madjoni, um mineiro polígamo, e a sua concubina Bacela, uma vendedeira muito conhecida no mercado grossista do Zimpeto. As gémeas tiveram a sua infância e pré-adolescência tranquilas em Khongolote e o seu itinerário era simples, entre casa-escola e casa-igreja e alguns passeios familiares, xitiques e quase que sempre nas férias do final de ano iam a Chibuto, terra dos seus avós maternos.
Eram confidentes uma da outra e contavam-se tudo menos nada. O tempo voava nas asas do tempo e as raparigas já frequentavam o nível secundário. Foi lá onde conheceram o Tilu e o Ndambu, dois rapazes amigos mas com temperamentos diferentes. O Tilu era estudioso e um autêntico demónio de saias, enquanto o Ndambu era uma mescla de tímido e calmo, rapaz de poucas palavras. Ndambu era capaz de dar mundos e fundos a Nwetty, mas ela só tinha olhos para o Tilu.
O quarteto ia e voltava da escola na mesma carrinha escolar e como a desgraça nunca morre solteira, eles faziam parte do mesmo grupo de estudos. Tilu como todo malandro que se preze ia fazendo um carinho com uma e um elogio a outra, e deste modo ia amolecendo o coração das ingénuas. Aos olhos do mundo Tilu era o melhor amigo das gémeas e a tia Bacela fazia muito gosto em ver o seu tesouro na companhia do bom rapaz.
A Nhellety era a gémea que mais afinidades tinha com o Tilu e este como um exímio predador, declarou-se para o agrado da donzela que já rendida aos encantos do Dom Juan não se fez de rogada. Enquanto o tempo ia escoando-se, Tilu ia incessantemente enchendo a Nhellety de promessas e ela contava tudo menos nada a sua eterna confidente. As epopeias dos pombinhos deixavam a Nwetty curiosa e com desejo de compartilhar as fantasias da Nhellety, mas o eco da voz da avó materna perseguia-a – minhas filhas compartilhem tudo menos o homem –, cada uma de vós irá conviver com os seus próprios fantasmas, isto é, terá de gemer pelos seus próprios prazeres.
Enquanto isso, Ndambu do seu jeito ia cortejando a Nwetty, mas debalde pois ela só tinha ouvidos para o Tilu, o malandro e namorado da irmã.
Não existe bela sem, senão uma malária abraçou amorosamente a Nhellety, deixando-a debilitada e como prémio ela teve uma semana de descanso, período suficiente, para o Tilu dizer-nos ouvidos da Nwetty aquilo que toda rapariga apaixonada deseja ouvir da boca do rapaz por elas eleito como o homem do primeiro tiro, na avenida dos seus prazeres.
Aquelas palavras ditas na desportiva pelo malandro tiveram um impacto imensurável na vida da Nhellety, tanto que elas acenderam o fogo da sua saia, explodiram o fogo-de-artifício do seu coração e provocaram a terceira guerra mundial na sua ingénua cabecinha. Nwetty mandou a etiqueta às favas, divorciou com cumplicidade entre elas e pela primeira vez, uma das gémeas ocultava uma informação importante e delicada que ia transformar as suas vidas em definitivo. Mas, em contrapartida, seguiam a risca o seu destino, pois uma vez mais compartilhariam algo o Tilu e a partir daquele lindo e maldito dia Nwetty jamais saberiam se, gostar das mesmas coisas que a Nhellety era obra divina ou diabólica.
No melhor pano cai a nódoa, assim reza o ditado, a Nwetty convivia com aquela dicotomia entre amar ou odiar o seu cunhado amante e de revelar ou ocultar aquela paixão doentia que atropelava todos os seus princípios. Disputar um homem com a sua própria irmã era o fim da picada, era uma enorme borrada. Nwetty não perdoava a sua decisão, mas em toda sua vida compartilhou tudo com a Nhellety, e Tilu não fugiria a regra. O mundo desabava sobre si, a irmã que sempre a apoiou a dar uma chance ao Ndambu, jamais a perdoaria com tantos homens porque cismara com o seu a sua mãe não entenderia aquela obsessão e a avó abraçaria a morte com muito prazer no lugar de assistir as suas netas a terem um marido por turnos igual a ela e sua filha Bacela. A desgraça voltava vestida de outras cores. Até o seu pai, o polígamo Madjoni com mais de meia dúzia de esposas entre Maputo, Gaza e África do Sul, não a apoiaria.
Convocou à razão, deu um ultimato ao amante cunhado ou vice-versa, mas este, malandrosamente, ia ludibriando-as, até ao dia que ele recebeu uma notícia bomba, que virou a sua vida de avesso. As gémeas estavam grávidas.
Minyetani Khossa
Amei
ResponderEliminar