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1. Poetas ausentes
Sacodem a poeira
Livrem as gavetas
Cubram a lareira
E desabotoem as prateleiras
Queimem tudo
As folhas, os folhetos
Os livros, os libretos
Os poemas, poemetos
E os sonetos
Esses poetas mafiosos,
Fingidores e ambiciosos
Com suas metáforas e anáforas
Fazem-nos audaciosos
No futuro misterioso
Que de nós é ermo
Debulhem pouco a pouco
As gramáticas, as semânticas
E os versos no estouro
Que nos virgens eclodem
Poetas são loucos
... mais loucos que a loucura
Dementes e ocos,
Míseros e medíocres
Livres na sua total ignorância
Presos na sua liberdade
Escravos das suas ânsias
Joguem tudo ao lixo
Se não for vontade própria
E não ir mais além do consciente
Então, queimem tudo.
2. Promessa
Quando eu voltar
Prometo contar-lhe
Um segredo
Mas antes, deixe que
O poema durma em mim
Não quero me tornar
Poeta de novo
Tão cedo.
3. Sou poeta
Sou feito de palavras
De palavras nascem os versos
Dos versos emergem estrofes
Das estrofes surge o poema
Ah, do poema se faz o poeta
Então: sou filho das palavras
Pai de versos e estrofes
Eu moldo poemas
Em fim, sou poeta.
4. Desejo insano
Queria rasgar um verso neste papiro
Mastigar as rimas, e emprenhar estrofes
Ainda que seja em suspiro
E parir um poema
Aos moldes do poeta
Queria deixar rastros da minha
Inútil alma
Selados num pedaço de madeira
Em algum lugar,
Para poder viajar em paz
No aquém da luz que se jaz
Eu queria beijar o verbo
Dormir a palavra até fecundá-la
Quiçá possa dar luz ao poeta
que em mim dorme
E o traga do ermo
Para o extremo do meu planeta
Para saciar meu desejo insano
De pintar o mundo com a alma!
5. Sua poesia, seu tudo
poeta, torne da sua poesia sua amante,
sua mulher, seu lar, seu apaixonante
torne da sua poesia seu sussurro,
seu ontem, seu presente e seu futuro
Não há bela vida sem palavras
o melhor lugar pra descansar a alma
poeta, torne da sua poesia sua alegria
seu acalento, sua paz, sua enfermaria
se assim poder (de)escrever
os vazios absconsos vai preencher
Arcélio Alfredo Zitha
Sobre o autor: Arcélio Alfredo Zitha, é natural se Muzingane, distrito do Limpopo, província de Gaza. Tem 22 anos de idade, é formado em Agro-pecuária, pelo Instituto Médio Politécnico Santa Maria do Cenáculo. Começou a escrever poesia a partir de 2014, depois de uma profunda lição de português sobre a vida de Luís Vaz de Camões. Tem publicado seus poemas em algumas antologias e participou recentemente da Antologia +258 Poemas, organizada por Nélio Gemusse.
Até ao momento não possui obra de sua autoria publicada, mas tem alguns escritos engavetados.