1. SOLIDÃO
Crava a agulha do tempo
sob o despenhadeiro de vãs memórias
soturando sob meu calvo
canoa de derradeiros caminhos.
E o fim
mendiga trapos de alpha
num cosmo de penúrias
e tudo, menos vida.
Ondulando
nos tugmentos frigoríficos
a vida
vai-se-me sendo ilusão.
2. O tempo é um rio sem foz
Vejo um rio correndo sob meus olhos bem na procura d'um estuário que em mim não reside, ofusco o pensamento cavando contraste entre soluços de pensar e sentir. Sinto minha alma anuviada, concentro-me sem pensar talvez nem sentir, mas não, não me encontro. Sinto as brisas pairando sobre o lábio da nuvem que me atenua o sonho em destroços, e lá, a muralha de ilusões almejadas está no topo do impossível, crescendo bem no alto da solidão. Paro, rasgo tudo, rasgo o mundo até a árvore que me constrói, sinto a tinta derramando mocuosos versos de solidão sobre o calvo de mim. Sangra, o espírito e costura uma transfusão no papel, ferindo-me, arrancando de mim um poema cheio de vãs luzes.
3. Nevoveiro do viajante
Ombros dilatados
Exausto e absorto
Esculpindo versos em direção nenhuma
Deambulando aos passos do destino
Ao ar, que me leva além mar
Da imaginação.
Oh, primavera
Ouço dos meus pés
Um voo ermo sob as folhas secas e mortas.
Nos becos torvos como abismo.
Carregado duma trouxa do nada
Voando sob o deserto sem mangue
Velando às raízes profundas do sol
Deambulando, num cosmo quente e sem vida
Ó Deus, vagando chega o poente
De passos ocos e vazios
Dançando-se-me ao som do silêncio
E, às luzes de astros loucos
Mas rápido, que logo rompe-se
O sol, com o seu orvalho gaivotado
Erguendo-me cabeça semi-vazia
De sonhos deschinelados.
4. Mãe
As tuas súplicas de dor
as tuas lágrimas
as sepulturas que te marcaram
e, as tatuagens de chicote
no teu precioso corpo
Serão subtraídos todos
no dia que soltares as correntes
e explorar as tuas minas
oh! Mãe da combustão.
5 . ( …)
Vejo um vento vindo em direção dos meus olhos, pupilas envelhecem e choram de tanta luz que já não me ilumina mas me encurtece a gola da vida. A paz grita e rompe a pobre corda vocal no alto dos montes de penúrias, lá vêm, uns passos cansados e tatuados por rasga mantas milenares, desenhando sobre o chão uma musa de sombras velhas e sem luz. E eu, rezo por um céu azul e não nebulosamente escuro-cizento como a vida nos subúrbios iluminados pela escuridão de um lugar que imagino ser África.
Gostei do teu texto!!!
ResponderEliminarIsso é só um dos "alavanques" que vão te impulsionar, na linda trajetória de escritor e poeta!
É de jovens criativos como vocês que a nação precisa pra seguir sempre em frente.
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