Quatro Poemas de Sócrates Mayer


Quatro Poemas de Sócrates Mayer
Foto by Matos Matosse (Direitos Reservados)


1. Pérola murcha

Murcha do brilho, natureza impura;
És tu Maputo, cidade sem encanto
Que cruzas confluências de encantos;

Acácias morrem na desgraça emergente,
Esperança sepultada nas barbas velhas
Dos 130 anos idos;

Pérola murcha sem desenvolvimento
Sustentável, sem cultura ambiental;
És mulher órfã de protecção
Cujas infraestruturas ejaculam destruição;

Maputo terra de desenvolvimento desigual
Num contexto social angelical,
Maputo és epicentro de identidades
Que denunciam diversidades;

Maputo flora murcha, sem brilho e encanto.
                 

Sócrates Mayer


2. Queria ser feliz

Queria ser feliz
Livre como os pássaros
E autónomo como a perdiz;

Queria ser fonte do amor
E á todos contagiar
Com esse feitiço engajador;

Queria meu povo alegrar,
Burgueses meus sarcasticar;
Maravilhas cantar
E em cada humano alegrias cravar,

Mas o presente me condena
O passado me degola
E a fome me esfola.

Apenas quero ser africano
Amorfo como moçambicano
Que morre na caverna da utopia
Em troca da devorante miséria.

Ó África! Quero ser feliz
Mas teu passado me condena
Teu presente me á catana
E o teu futuro é reflexo do outrora.


Sócrates Mayer




3. Da sociedade Ignota

Fui gestado como patrão
Queimado como alcatrão
A história levou-me à escravidão,

Ao som do chicote danço
Na fome permanente
Onde á dor me aparta
E o amor me desaparta;

Sou originário da negritude
Do conto sem virtude
Que a alma corrói
E meu planeta destrói,

Sou da sociedade ignota
Da mentalidade esclavagista
Que minha alma de sangue fermenta.


Sócrates Mayer


4. Era infeliz

Até o momento que seduziste 
Meus desejos
Alienando meu coração
Que só desenhava seu planeta

Esse perfeito planeta humano
Desenhado com régua e esquadro
Requintado com lápis de cor
Que orbita num inocente olhar

Que á todos contagia
Minha alma vicia
Para piorar moras em outro colo
Deixando-me distante de teu consolo;

Teu planeta corporal é mágico
Que vai me tornando nostálgico
Ao ponto de abdicar de tudo
Só para morar em seu berço,

São desvarios que me levam a ti
E tu à mim nessa maratona ilusória
Que me perde em sua trajetória;

Só de olhar sinto-me teu Romeu
E tu meu blindado troféu
Que orbita nos sentimentos avassaladores
E olhares devoradores.

No silêncio da tarde
Sou feliz em seu planeta
Onde tudo me consola
E teu mundo afugenta minhas carências;

Na madrugada me perco em seu leito
Me alegro em seu peito
Percorrendo seu planeta que me faz
Escravo de mim.


..........

AUTOR: Sócrates Mayer

Todos Direitos Reservados

Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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