Sete Poemas para Adentrar ao Âmago de Francisco Raposo

Sete Poemas para Adentrar ao Âmago de Francisco Raposo

Francisco Raposo

(1) As verdades

É verdade que isto existe,
É verdade.
Verdade mesmo
É existirmos perante isto.

Será verdade
Que nós perante isto
Somos “istos”?
E porque não pode ser verdade
Que isto somos nós?


(2) Fáscia

Boca, dentes, língua,
Fáscia, aviva, fibras,
Desejo, vibra, água,
Luxo, pratos, mesas
Aventais, fome, pressa,
Desejo, sabores, fervem.

Pão, podre, velho
Rugas, caras, fome
Latas, pedras, fogo
Fumo, lágrimas, sopros
Ranho, infâncias, limpas.


(3) Lados da moeda

AO AMOR PRA BAIXO.
A quem não te sente,
Sente;
A quem não te vive,
Vive;
A quem não te conhece,
Conhece.

A quem te maltrata,
Trata;
Mal retrata, descarta
Dentro de ti
Que (se) parta
AO AMOR PRA CIMA


(4) Era pra ser gente

Era pra ser gente
De carne e osso
Dos pés ao pescoço.
Pessoa!

Era pra ser gente
Ter sentimentos
Respirar batimentos
E viver momentos.
Gente!

Gente meu povo, gente!
Pessoa!
Dentre o mais humilde,
O (ir)racional
Ou que (vir)racional
Que compreende gente.
Gente meu povo, gente!


(5) Homem-plantas

O vapor da vida
Fecunda-se nos homem-plantas
Apáticos aos tiranos

Não na flor
que denuncia fecundidade
Nem em folhas
secas de saudades
Muito menos em mim
Que vaguei
nesta tinta.

No deserto
Vemos com nitidez
Uma oprimente nudez
Que desgasta o horizonte
De económicos sáurios
Espertos para a desgraça.


(6) Nossa vez

Não nos vaiam
Ficam em nós
Estáticos comparam
O peso a quilos
Nossas lágrimas.

Não vão, fiquem
Parem aqui,
(ou no nosso lá)
E enxugue-nos alma
Até a transparência.

Ao invisível não limpem!
A poeira vai só
Se difundir no vento.
Limpem só o vento
O nosso último suspiro.


(7) Lágrimas de tua mãe

São lamúrias
Que ela colocou
Em terra firme.

São lamúrias,
São você, são você,
Lamúrias que ela colocou
Sobre terra firme.

São você,
Milhões de você,
Bilhões de tralhões de você.

Muitos você em Acção,
Muitos você de desgosto,
São você que faz molhar
O rosto murchado
da tua velha mãe
São você.

Por: Francisco Raposo

Sobre o Autor:
De nome completo Francisco Rafael José Raposo, vulgarmente conhecido por Favorito, nasceu  no distrito de Búzi, província de Sofala. Muito cedo se interessou em fazer parte do grupo cultural da escola primária, como não sabia cantar e nem dançar, buscou refúgio na poesia e no conto donde não conseguiu sair até hoje. Teve passagem em diversas associações e grupos culturais. Os seus primeiros manuscritos foram publicados em jornais escolares. Hoje é estudante do curso de licenciatura em Análises Clínicas e Laboratoriais, faz parte da Associação Literária Kulemba e colaborador da revista literária Soletras na cidade da Beira.

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