A Mulher de Vestido Vermelho – Peripécias de Baixa-Boane 2


  
A Mulher de Vestido Vermelho –  Peripécias de Baixa-Boane 2

E lá apressei-me a desligar aquela Maquina que nós apelidamos por computador, segurei na minha mochila e a pus nas costas, ergui os meus dois braços e entoei:  Colegas,  ate amanhã, fui.

Assim, pus-me fora daquela sala onde nos conhecemos, porque todos queremos dinheiro no final do mês. Hoje é directo para casa e nada de Lenga-lenga, o meu consciente afirmou e aprovou.  Posto isto, dirigi-me à praça dos autocarros. Andei cá com uma sorte! Peguei o autocarro com espaço suficiente para encaixar as minhas três, quer dizer duas nádegas. Assim me acomodei, o motorista do Baixa-Boane desta vez, não me pareceu ser do estilo de Vin Diesel talvez um Sitoe Diesel, um tranquilo.

Existe sempre aquela paragem onde notamos a importância de subir o autocarro ainda vazio ou mesmo de fazer ligação devido à enchente de passageiros. Após este tipo de paragem descobrimos posições jamais vistas em que as pessoas ficam.

Já bem acomodado vou contemplando a natureza pela janela e no ambiente calmo acabo embalado pelo sono. Vou mergulhando no sono, bem no meio do quinto sono, um uníssono dos passageiros se manifestou:

-Ish, ishi, hawena, massinguitane, maboazuda djon. (1)

 As cabeças dos passageiros embora de diferentes formatos, algumas quadrangulares, outras retangulares, faziam a mesma coreografia para trás. Ainda sonolento abri com firmeza a pestana e mirei atrás; O autocarro ficara paralisado, uma mulher de Bundas Voluptuosas, ancas dindáveis e vestido vermelho colante, invadiu o autocarro. Ela vinha num andar turbinado, com o farol de suas coxas apetecíveis.

Era só o que faltava, alguns passageiros perderam a lucidez. Os assobios compuseram uma nova canção no autocarro: piu, piu, como se fossem patinhos. Os experimentadores afirmaram:

-Moça, queres nos matar ne?

 Ela peou até ao meio do autocarro, quando constatou que não havia mais lugar para sentar, parou bem na minha íris. Mas que atrevimento, ela tinha uma pose afrodisíaca. Não tardou que alguns cavalheiros de meia tigela a cedessem lugar.

-Moça senta-te aqui, que eu fico de pé.

Foram mais assobios piu, piu. Dois tipos metidos em manchões conversavam por detrás  da cadeira da moça.

-Eu posso conquistar essa dama. – Disse um.

- Conquista la - disse o outro. Não acreditas, eu não tenho medo de mulher nenhuma, meu.

-Conquista la então, você é matreco, só fala só…


As cabeças ainda viravam continuamente para trás apreciando a moça e também ansiando ver a atitude daqueles dois manchões baratos. Finalmente um deles decide…Hás de ver só.


- Olá moça. - Mas ela fingiu não ouvir e calou-se.

- Moça estou a cumprimentar-te…


- Ahh... Oi.


-Eu quero ir contigo aonde vais, vais para onde?


- Vou para casa.

- Então vamos juntos ao descer.

Com um sorriso cínico respondeu.

- Não.

- E com ele podes descer? Referindo-se ao seu amigo. Ela, porém, disse-lhe: - Humm, Talvez.


Um dos conquistadores  afirma ao colega.

- Rendi la, aqui não aguentaste brada.

Bem se via que cão que ladra não morde. Um passageiro ao lado da mulher de vestido vermelho ergue-se para descer e um outro atrevido vai  sentar-se com ela. Os passageiros expectantes fitaram aquele homem que parecia decidido a agir como um verdadeiro macho alfa age.

-Eu só quero saber o teu nome.

Chamo-me Nilza. Este porém após isto, jantou a moça com olhares, e pimba foi como se tivesse desaprendido todo o léxico. - A plateia desata em zombaria, lançam gargalhadas agudas.


-Aquele também enterrou hahaha, yah enterrou o gajo.


O clima se tornou mais sereno no autocarro. O cobrador do autocarro questiona:

-Matola rio?

- Paragem Matola rio – Era a mulher de vestido vermelho.

Repentinamente alguns passageiros mergulharam num mar de tristeza. – Ela vai descer? Epa…

- Moça espera, massinguitana…. E assim a moça de vestido vermelho sumiu naqueles arrabaldes. Havia quem ainda falasse dela, do seu vestido vermelho, de suas intenções e possíveis destinos.

 A viagem porém continuou para nós os outros passageiros, cada um rumo ao seu destino.

Alguns querem perguntar como chegou o narrador, certo? Não vos digo, encontrem-me novamente nas Peripécias de Baixa-Boane 3 -  O Antigo Guerrilheiro da Luta Armada  fui...

Glossário

(1) - Maravilha, Que mulher Sexy


Por: Bathist DMC
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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