AS DESIGUALDADES SOCIAIS NUM SISTEMA EDUCATIVO ELITISTA

AS DESIGUALDADES SOCIAIS NUM SISTEMA EDUCATIVO ELITISTA
Uma Perspectiva Sociológica
Kheron-Hapuch Nhabomba[1]

Créditos da Imagem AQUI
        Nesta senda de ideias, procura-se neste essay compreender, analisar e explicar as implicações das desigualdades sociais provocadas pelo sistema  educativo.
Em termos sociológicos considera-se uma elite àquele agregado que possui mais privilégios económicos e que consequentemente pode garantir uma educação de “qualidade” aos filhos, sendo essa elite a maioria dos ocupantes das vagas nas universidades públicas. A procura social de uma educação que se tem vindo a assistir nas últimas décadas levou à passagem de um ensino destinado a uma elite para um ensino de massas."Esta passagem está, porém, carregada de contradições, a maior das quais resulta de se não ter produzido qualitativamente no ensino de massas, mas, ao invés, se ter desenvolvido uma massificação do ensino de elites" (PIRES).

No contexto moçambicano o abismo que separa a classe dos favorecidos da dos desfavorecidos é mais acentuada. As desigualdades sociais ainda que mascaradas no velho slogan "Educação para Todos", podem ser medidas a partir da teoria da “Reprodução cultural” de Pierre Bourdieu, e evocando este, é legítima e assertiva de ser impossível a equidade no aproveitamento pedagógico e de oportunidades na área profissional se se convida ao baile de análises o capital cultural que cada uma das classes tem, ou seja, a disparidade no arsenal cultural que põe em desigual competição a classe dominante da classe dominada.

Enquanto a classe da elite entra para a escola com um arsenal intelectual refinado herdado a partir das condições económicas, sociais favoráveis uma educação cultivada e herdada dos pais (o bom gosto, o estilo, o talento, etc.), a classe desfavorecida devido as suas condições económicas e sociais cai em desvantagem comparativa no mercado de emprego, produzida por uma competição injusta.

Pode-se dizer que a cultura de elite é tão próxima à cultura escolar que as crianças originárias de outras classes não podem adquirir, senão penosamente, o que é herdado pelos filhos das classes cultivadas”
(CUNHA). E os trabalhadores manuais são sempre pressionados pelos altos custos indirectos da escolarização, são sempre desestimulados pela sensação de que essa escola não foi feita para eles e para seus filhos, e sim para os outros, isto é, para um aluno ideal com perfil de classe média. E o resultado dessa situação é que para a maioria da sociedade assente no capitalismo a obrigatoriedade do ensino elementar não se cumpre e é ilusória por ser inviabilizada pela alta evasão escolar e pela trajectória de escolas intermitente das crianças pobres.

A educação em Moçambique foi marcada por três períodos: Educação colonial capitalista, educação socialista e a educação capitalista pós-independência. Na era colonial, moçambicanos tiveram dificuldades de ter acesso a educação, visto que a educação de qualidade estava reservada para os colonos e seus filhos, após a independência, Moçambique adopta o sistema socialista que defende o homem  liberto da educação como pertença de uma elite determinada.
Nos nossos dias, a democratização da educação trouxe consigo o direito a escolarização de todas as classes e se aclamando "Educação para Todos" como palavra de ordem. Não obstante, importa ressaltar que tal como a maioria das sociedades capitalistas contemporâneas o sistema educativo não mudou, mas foi dando  atenção as classes desfavorecidas, somente promovendo a massificação duma educação preexistente e concebida pela elite e seus propósitos.

É por parte disso que a mobilidade social no nosso país contínua dependendo mais do capital social (influências) em detrimento da doutrina pregada pela teoria meritocrática na qual se aclama que a ascensão socioprofissional  depende exclusivamente do mérito e engajamento do estudante. Teoria esta que só é funcional   aos privilegiados, ou seja, a classe abastada.

Em suma, torna-se um desafio paradoxal desvelar o factor de que: Face as desigualdades de renda,   será a educação um deus ex machina que trará a estabilidade, ascensão socioprofissional e igualdade na sociedade, ou será a mudança e distribuição mais equitativa dos recursos em observância as classes desfavorecidas que mudaria os maus aproveitamentos no sistema educativo?

Mas, duma forma ou de outra, há que repensar na eficiência dos velhos sistemas educativos face principalmente a anomalia social que o país enfrenta caracterizada por uma paz armada, recessão económica e elitização das instituições.

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Referências 
BOURDIEU, Pierre: Reprodução Cultural.
CUNHA, Maria: Sociologia da Educação.
http://bradocomunista.blogspot.com/2012/08/educacao-e-socialismo-segundo-decio-saes.html?m=1
http://vieiramiguelmanuel.blogspot.com/2014/11/a-educacao-na-sociedade-socialista-pro.html?m=1
http://bradocomunista.blogspot.com/2012/08/educacao-e-socialismo-segundo-decio-saes.html?m=1
http://vieiramiguelmanuel.blogspot.com/2014/11/a-educacao-na-sociedade-socialista-pro.html?m=1




[1] Estudante de Sociologia na Universidade Pedagógica, poeta e escritor.

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