Nos Deixam Dançar ao Som do Batuque dos Vocábulos: Mas a Maçaroca Não Deixam Comer!

Nos Deixam Dançar ao Som do Batuque dos Vocábulos: Mas a Maçaroca Não Deixam Comer!






Ps: Sabe-se que, o batuque e a maçaroca são dois símbolos constantes na bandeira do partido no poder, enquanto o batuque liberta o som e os seus vocábulos para entreter a sociedade com cânticos heróicos e discursos triunfalistas que escamoteiam a verdade, um grupo de indivíduos se delicia da maçaroca, e quando o povo já cansado de dançar, se apercebe que não existe mais maçaroca para colheita.

Parte I

Dança ao Som do Batuque dos Vocábulos

Caríssimos, não há sombras de dúvidas que o Presidente da República Felipe Jacinto Nyusi inaugura uma fase da nossa história caraterizada, tanto por discursos, bem como informes estruturalmente válidos, retóricos e demasiadamente didáticos e pedagógicos.

 O discurso de Sua. Excia proferido a quando da sua tomada de posse em Janeiro de 2015 foi demonstração clara da inauguração desta fase.

Aliás, desde o beat da campanha “Eu Confio em ti, Nyusi” já se previa que entraríamos numa fase em que as nossas almas dançariam ao som do batuque dos vocábulos e de letras lindas.

O beat usado na campanha eleitoral no ano 2014 por parte do partido Frelimo, até aos dias de hoje habita sem ser corroído pelo esquecimento nas nossas mentes, tudo isso devido a linda letra que acompanha o mesmo (beat).

Caríssimos, até hoje os moçambicanos se sentem maravilhados pelo belíssimo discurso de tomada de posse proferido pelo chefe de Estado, não há canto em Moçambique e quiçá no mundo que não conhecem as célebres expressões "No meu coração cabem a todos Moçambicanos", ou mesmo ainda "O povo é o meu patrão" e "Boas ideias não tem cor partidária", podem crer que, mesmo passados dois anos o povo ainda vive sob feitiço dessas expressões.

É extremamente difícil se esquecer dessas expressões, pois, fora o feitiço por elas criadas, o nosso nível de expectativas aumentou em relação ao Presidente da República e ao governo por ele formado.

Enquanto ainda nos deliciávamos das lindas expressões do discurso de Sua. Excia (2015), já em 2016 o feitiço aumentava ainda, quando o enforme Geral de Estado veio adicionar até no vocabulário dos aproximadamente 44% dos analfabetos, a célebre expressão, "Estado da nação é Firme".

 Não tardou para que, este ano ao som do Batuque de um novo vocabulário, dançassemos ao ritmo de um "Estado desafiante e encorajador."

Caríssimos, se esse todo vocabulário enchesse a barriga, matasse a sede, aumentasse o nível de alfabetizados no país, não tenhamos dúvidas que, teríamos um povo mais bem nutrido e alimentado do mundo.

Parte II

Mas a Maçaroca Não Deixam Comer!

Qual seria o real significado neste texto, da Maçaroca que não nos deixam comer?

Lembremos que, a quando da nossa independência, uma das grandes promessas feita ao povo, é que teríamos um Estado inclusivo e paternalista, onde as oportunidades seriam racionalmente partilhadas para que, a nossa independência não constituísse uma propriedade privada.

Acreditávamos que pudéssemos ser emancipados e glorificados pelo espírito de pertença e de patriotismo, mas não, fomos glorificados pela proliferação da fome, analfabetismo, desemprego, desnutrição e de mais desgraças.

Nesse texto tratamos a maçaroca como sendo os seis (6) itens abaixo descriminados;

* Qualidade no Ensino;
* Habitação;
* Emprego;
* Saúde;
* Acesso a Justiça;
* Paz.

 Preferimos elencar estes seis (6) itens por considerar na nossa visão como sendo variáveis necessárias para analisarmos o último Informe Geral da Nação.

Não sabemos como considerar encorajador um ano que herdou e infelizmente não conseguiu contornar uma taxa de 44% dos analfabetos, desde que fomos signatários dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio em 2000, parece que a nossa preocupação foi de ter mais crianças no ensino formal, no lugar de proporcionar qualidade no próprio ensino.

Infelizmente com essas taxas alinhamos na lista dos países com uma das "populações" mais analfabetas do mundo. Será isso encorajador Sua. Excia ao ponto de sermos resiliêntes?

Talvez possa ser encorajador sim, mas para uma parte que vê ganhos com essa taxa, as usando como projeto político, sendo que, quanto maior for o número de analfabetos que o país tiver, mais serão as chances de sermos explorados e aldrabados, e com discursos alaranjados sermos acarinhados por via das expressões motivacionais.

Como é possível Sua. Excia, termos um país encorajador com quase toda juventude sem casa própria porque o governo não consegue prover políticas habitacionais, que possam ir ao encontro de um rendimento proporcional ao que a juventude aufere? Será que ao relento seremos tão resiliêntes, Sua Excia?

Como será possível Sua. Excia sermos resiliêntes num Estado, onde as casas construídas pelo Fundo público são para uma juventude que nem perfaz a taxa dos que realmente precisam dessas casas e acima de tudo não pagam mensalidades para garantir o retorno do fundo como forma de gerar novos projetos?

Sua. Excia, sinceramente falando não sabemos até que ponto, apenas o cidadão pacato deve ser resiliênte face a um sistema de saúde precário, ao passo que, os que colaboram para a elaboração dos seus discursos com um vocabulário triunfalista recorrem à países vizinhos a busca dos melhores sistemas saúde.

Sua. Excia, a resiliência que tanto apela no seu lindo informe, não pode ser seletiva, ou sejamos todos resiliêntes proibindo a emigração de doentes (Que fazem parte do governo e dos altos cargos do Estado), como mecanismos de incrementar a nível nacional o estabelecimento de um bom sistema de Saúde.

Sua. Excia como pretende que sejamos resiliêntes face a um sistema judiciário que age como serpente e que somente pica aos pés descalços? Um sistema judiciário que não consegue punir o crime mais hediondo da nossa história que colocou a economia do Estado numa situação de défice.

Sua.Excia há 9 anos o nosso Produto Interno Bruno teve um crescimento histórico de 7 a 8%, algo que desde a nossa independência não havíamos experimentados. Mas não demorou para que limpassem tudo a favor da satisfação de apetites privados, cadê a Justiça para fazer jus à essa questão...?

Sua. Excia é quase que utópico ser resiliênte num sistema judiciário que protege aos que deveriam ser responsabilizados por um saque que humilhou os Quarenta e dois (42) anos da nossa independência e da luta pela reconstrução econômica do país.

15. Hoje não produzimos porque o dinheiro para a compra de matéria prima, os indivíduos "abecedário" não sabem do seu paradeiro e muito negam que sejam os culpados, e sendo assim deveria ser tarefa do judiciário investigar o paradeiro deste dinheiro, mas infelizmente o sistema judiciário também não é resiliênte. Como seremos resiliêntes?

Sua.Excia, temos atenciosamente feito um acompanhamento as suas investidas na busca da propalada paz, mas infelizmente esses resultados não são satisfatórios, pois, os que ganham beliscando a paz não é o povo, mas sim o partido Renamo e algumas elites do Governo.

Desde a data do nosso nascimento em 1992, ano que assinalaram os Acordos Gerais de Paz nunca, vimos o partido Renamo pegar em armas e pressionar o Governo para construir, estradas, escolas, hospitais, laboratórios de pesquisas, pontes, entre outras iniciativas para o bem social.

Só pegam as armas quando for para a revisão do pacote eleitoral, será que os cercas de 26 milhões da população fazem parte destes órgãos? Como ser resiliênte dentro de um processo que é negociado para simplesmente beneficiar os interesses das partes? É deveras difícil ser resiliênte num Estado já privatizado.



In Moçambique, a terra do vocabulário e da maçaroca que não nos deixam morder.




Assinantes: Bitone Viage & Ivan Maússe
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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