Travar os casos de familiares que enganam aos seus da zona rural!



Travar os casos de familiares que enganam aos seus da zona rural!
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Devido às dificuldades financeiras somadas à necessidade de escolarizar seus filhos, muitos pais que vivem nas zonas rurais do nosso belo Moçambique, costumam enviar seus filhos para as cidades capitais.

De facto, Maputo tem sido a preferência de muitas famílias, a título de exemplo, das províncias de Gaza e Inhambane, para enviarem seus filhos, que passam a viver nas casas de seus familiares, geralmente, tios. Se antes o envio era feito por intermédio de cartas que levavam dias para chegar, hoje, é por telemóvel.

Consta que as famílias das zonas rurais procedem como tal, na esperança de um dia verem seus filhos formados para que, a dado dia, possam ser económica e financeiramente úteis, já que no campo, o único futuro que lhes reserva é apascentar gado, casamentos prematuros e outros males próprios do costume.

Os familiares das capitais, quando solicitados, mostram-se abertos para receber esses jovens e crianças que vem da zona rural, comprometendo-se até mesmo a trata-los como seus verdadeiros filhos. Prometem educação, mordomias e afecto iguais àqueles que assistem aos seus filhos, diga-se, legítimos.

Como era de se esperar, e é razoável que assim seja – pelo menos aos olhos do homem médio – essas promessas enchem de esperanças àquelas famílias, que acreditam que os seus filhos estão entregues em boas mãos, que tornar-se-ão, no futuro, em grandes homens e mulheres, pondo-lhes sossegados.

Frequentemente, já no terreno, o aspirado é defraudado. O sonho vira pesadelo. Esses jovens e adolescentes oriundos da zona rural, ao chegar em Maputo, são transformados em verdadeiros escravos e empregados domésticos. As meninas são transformadas em até escravas sexuais pelos seus próprios tios e primos.

A humildade que tanto caracteriza o semblante e o perfil dessas pessoas faz delas impávidas perante esses abusos. E porque os seus familiares da metrópole os desligam do contacto com os seus familiares e, às vezes, com a própria vizinhança, torna-se ainda mais difícil que essas pessoas adiram ajuda externa. E, consequentemente casos de abusos reiterados acabam sendo descobertos pela vizinhança, valendo-se pela fofoca. Afinal, na nossa realidade, tudo indica que os vizinhos sabem mais das nossas vidas, incluindo o que se passa em nossas casas do que nós próprios. Pois, é como dizem: o melhor jogador é o que está fora do campo!

É um facto que muitos jovens e adolescentes são submetidos a trabalhos forçados que lhes valem um prato de comida. Mandam-lhes, inclusivamente, às ruas para vender. Segregam o novo hóspede dos seus filhos. O recém-chegado é até proibido de ligar o rádio, a televisão, e de se sentar nos mesmos sofás que outros. Na verdade, fazem dessas pessoas empregados sem renumeração, levando-os a lavar carros, a cuidar do jardim, a lavar seus filhos. Proíbem-nos a sair de casa e vestem-lhes farrapos. São os primeiros a acordar e os últimos a dormir. São insultados e maltratados, sempre, e mesmo tomados como verdadeiros mendigos.

Além disso, não se podem sentar à mesma mesa que a família “original”. Não usam dos mesmos cosméticos que outros membros da casa. Não são contemplados nos passeios dos fins-de-semana. Ficam em casa a trabalhar. São sempre os culpados por qualquer coisa que acontece ou objecto que desaparece no lar!

As vítimas, mesmo novas, ficam velhas pelo sofrimento que passam. Defraudadas as expectativas que carregavam desde quando da sua saída e vinda à cidade, essas pessoas abandonam essas casas e vão morar nas ruas. No caso dos homens viram assaltantes, gatunos e afins, e as meninas, prostitutas.

Passados alguns anos, os pais destes jovens, esperançosos de que seus filhos já cresceram em idade assim como académica e profissionalmente, descobrem que apenas são avós e que seus filhos foram desgraçados, que viraram mendigos, criminosos e prostitutas. Sonhos catastroficamente frustrados.

 É do nosso entendimento que essas práticas devem ser abortadas. A humildade e carência que muito caracteriza as pessoas do meio rural, não podem ser vistos como uma oportunidade para fomentar o trabalho escravo dessas pessoas pelos seus familiares do meio urbano. É atitude, no mínimo, desumana.




Por Ivan Maússe!
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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