Creditos da Imagem AQUI |
Devido às dificuldades financeiras somadas à necessidade de escolarizar
seus filhos, muitos pais que vivem nas zonas rurais do nosso belo Moçambique,
costumam enviar seus filhos para as cidades capitais.
De facto, Maputo tem sido a preferência de muitas famílias, a título de
exemplo, das províncias de Gaza e Inhambane, para enviarem seus filhos, que
passam a viver nas casas de seus familiares, geralmente, tios. Se antes o envio
era feito por intermédio de cartas que levavam dias para chegar, hoje, é por
telemóvel.
Consta que as famílias das zonas rurais procedem como tal, na esperança de
um dia verem seus filhos formados para que, a dado dia, possam ser económica e
financeiramente úteis, já que no campo, o único futuro que lhes reserva é apascentar gado, casamentos
prematuros e outros males próprios do costume.
Os familiares das capitais, quando solicitados, mostram-se abertos para
receber esses jovens e crianças que vem da zona rural, comprometendo-se até
mesmo a trata-los como seus verdadeiros filhos. Prometem educação, mordomias e
afecto iguais àqueles que assistem aos seus filhos, diga-se, legítimos.
Como era de se esperar, e é razoável que assim seja – pelo menos aos olhos
do homem médio – essas promessas
enchem de esperanças àquelas famílias, que acreditam que os seus filhos estão
entregues em boas mãos, que tornar-se-ão, no futuro, em grandes homens e
mulheres, pondo-lhes sossegados.
Frequentemente, já no terreno, o aspirado é defraudado. O sonho vira pesadelo. Esses jovens e
adolescentes oriundos da zona rural, ao chegar em Maputo, são transformados em
verdadeiros escravos e empregados domésticos. As meninas são transformadas em
até escravas sexuais pelos seus próprios tios e primos.
A humildade que tanto caracteriza o semblante e o perfil dessas pessoas faz
delas impávidas perante
esses abusos. E porque os seus familiares da metrópole os desligam do contacto
com os seus familiares e, às vezes, com a própria vizinhança, torna-se ainda
mais difícil que essas pessoas adiram ajuda externa. E, consequentemente casos
de abusos reiterados acabam sendo descobertos pela vizinhança, valendo-se pela
fofoca. Afinal, na nossa realidade, tudo indica que os vizinhos sabem mais
das nossas vidas, incluindo o que se passa em nossas casas do que nós
próprios. Pois, é como dizem: o melhor
jogador é o que está fora do campo!
É um facto que muitos jovens e adolescentes são submetidos a trabalhos
forçados que lhes valem um prato de comida. Mandam-lhes, inclusivamente, às ruas para vender. Segregam o novo
hóspede dos seus filhos. O recém-chegado é até proibido de ligar o rádio, a
televisão, e de se sentar nos mesmos sofás que outros. Na verdade, fazem dessas
pessoas empregados sem renumeração, levando-os a lavar carros, a cuidar
do jardim, a lavar seus filhos. Proíbem-nos a sair de casa e vestem-lhes farrapos. São os primeiros a acordar
e os últimos a dormir. São insultados e maltratados, sempre, e mesmo tomados
como verdadeiros mendigos.
Além disso, não se podem sentar à mesma mesa que a família “original”. Não
usam dos mesmos cosméticos que outros membros da casa. Não são contemplados nos
passeios dos fins-de-semana. Ficam em casa a trabalhar. São sempre os culpados
por qualquer coisa que acontece ou objecto que desaparece no lar!
As vítimas, mesmo novas, ficam velhas pelo sofrimento que passam.
Defraudadas as expectativas que carregavam desde quando da sua saída e vinda à
cidade, essas pessoas abandonam essas
casas e vão morar nas ruas. No caso dos homens viram assaltantes,
gatunos e afins, e as meninas, prostitutas.
Passados alguns anos, os pais destes jovens, esperançosos de que seus
filhos já cresceram em idade assim como académica e profissionalmente,
descobrem que apenas são avós e que seus filhos foram desgraçados, que viraram
mendigos, criminosos e prostitutas. Sonhos catastroficamente frustrados.
É do nosso entendimento que essas práticas devem ser abortadas. A
humildade e carência que muito caracteriza as pessoas do meio rural, não podem ser
vistos como uma oportunidade para fomentar o trabalho escravo dessas pessoas
pelos seus familiares do meio urbano. É atitude, no mínimo, desumana.
Por Ivan Maússe!
Tags:
Artigo de Opiniao
Crianca
Cronica
Engano
Familia
Ivan Maússe
Lar
Mentira
Trabalho Infantil
vida