Dez poemas de Luís Francisco Nhazilo [o poeta sobrevivente]



Dez poemas de Luís Francisco Nhazilo [o poeta sobrevivente]
Dez poemas de Luís Francisco Nhazizo


Olhar

Um olhar só,
diz-me o calar das palavras
que a inocência me fez esquecer.
Enquanto lúcido,
permaneço inquieto
nessas sombras de gestos
que a boca suicida.
Sem chão, sobrevoam fantasmas
nos becos do meu peito,
fracassam, desfilam e indagam nas nódoas do corpo.
O olhar tem vezes que fala,
fala pouco, intrivial
lá se vai o campo da íris que se jaze
no silêncio coberto de lençóis
eu com tamanho da minha idade
molhamo-nos no sono.


A solidão

Neste dia refulgente
disperso nos ombros de mim,
sinto o chão perdurando
no pensamento quando
a saudade se despir
e ver de perto as pernas
das lágrimas pingando
em braços altivos e inocentes
que só  cabe o tamanho
da solidão.


Morreu o amor

Molhei o papel de sangue,
com a violência da saudade
percorro nos nadas
assoando o coração pela
esquálida paixão renegando
os traços da arma que
osculava com emoção
o grito intenso de alguém.
Olho ligeiramente com afecto
nos lábios,
perco o destino
e volto ao papel.


Cheiro

A poesia me xinga,
sombra-me
inquietamente
em curvas
das narinas.
espanca
na garganta
em sina
do grito da timbila
no olhar cozido.
Cheiro o peixe,
cheiro de mar
cheiro com sono
cheiro sem sabor
cheiro à cheiro
tortando a ponderada
nostalgia,
terras húmidas
e o entornar
esboçado
na dor
violentada.


Cantos á canoa

Remo com extrema nostalgia
trilhando na portentosa alma
fulminada, em águas escondidas nessa esvaecida tempestade.
Eu com o sorriso brigamos,
com os pés remámos nossas iracundas areias que se esfregam
fraudulentamente nas palmas do  silêncio.
Remámos com os cantos, com convulsão para que essa canção
tosquie esse mar dentro de nós.



Física da vida

Destas sombras que me arrancam a densidade que influi na alma,
ouço o silêncio escarniçando
a rapinada folha que confesso
minhas lucidezes naturais
e em retalhos, imagino-me velocista e daqui consigo enxergar a
derradeira vida dos fenómenos corporais se escurecendo em mim.


Conquista

Ando
espero
abraço
forte
inocentemente
entrego-me
e o corpo
em bafo
em afago
descanso,
suspiro
penetração
um derrame
dos beijos,
das carícias
e uma perdida na
sensação,
amor por coração
conquista,
saltita balbúcios,
calorias em casso
preocupações, desalentos
e inseguranças
num bigode de amor
que os seres vivem.


As chuvas

O sorrir das gotas escoadas
pelos tempos,
pelos lugares que
se semeavam em tremexias
toda humilde liberdade
que sonhara no hastear das trevas..
As chuvas se negam,
num temperamento ecoado
pelo asilo da nostalgia.
As estradas se ferem,
o cansaço nos olhos das
nuvens vaticinadas pelas
lágrimas inocentes,
pelas fusca-suscas ondas
do luar que se saltam,
se saltando no imaginar do mundo
se existindo.


O segredo

Uma pele
(uma folha)
um homem
(um poeta)
se fere num
cântico sereno
em catélos
viajando em
estradas(linhas)
Curtas e firmes
mergulhando a
meditação da alma
se depositando á
loucura do gesto que
se pára,
numa sensação
de vírgulas conturbando
a paciência de um afago
bisbilhotando os meus lábios.


Talvez não morra poeta

O verso me escapa
se despe a hemorragia
da inspiração,
cada vez mais longe,
mais longe a poesia fica,
a esperança de ser poeta
é esvoaçada com palavras aguadas que nem cabe aos oceanos desse papel.
O meu medo está mais próximo,
a poesia cada vez distante, mais distante que descarrila a mente,
e o canto da minha imaginação arralha em rebuliços que eu,
talvez não morra poeta.




Luís Francisco Nhazilo [o poeta sobrevivente]
Dez poemas de Luís Francisco Nhazilo [o poeta sobrevivente]
Luiz Francisco Nhazilo

Luís Francisco Nhazilo com pseudónimo "poeta sobrevivente", nasceu a 9 de janeiro de 1997, em Machava-bedene, província de Maputo. Escreve poemas, contos, ensaios, crónicas e romance. Começou a escrever em 2013 quando faleceu sua bisavó e decidiu homenageá-la com um texto poético. Em 2015 desenvolveu sua arte divulgando seus escritos nas escolas, bairros e eventos públicos através de leituras e declamações. É académico na academia virtual dos poetas da língua portuguesa (AVPLP) com patrono Calane da silva. Os seus textos mormente poesias, são publicados nos grupos virtuais tais como poetas que choram e amamsolar  dos poetas,intercâmbio dos poetas da língua portuguesa entre outros. Também tem usado a sua página do Facebook para divulgá-los. É actualmente membro do universos,tem declamado suas poesias no Gil Vicente, Fundação Fernando leite Couto, Teatro Avenida entre outros. É também, compositor musical e humorista.
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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