Entrevista com Tchaka Wa Nazaretha [as linguas tradicionais são o espelho da alma de um povo]



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Tchaka Wa Nazaretha


Entrevista com Tchaka Wa Nazaretha, um poeta que escreve e declama os seus textos em Changana. O entrevistado diz ter uma paixão enorme pelas línguas tradicionais, pois são o espelho da alma de um povo. Sendo assim, no seu ponto de vista, quem não conhece a sua língua tradicional obviamente não conhece a sua própria alma. Além disso, acrescenta que há necessidade de as línguas tradicionais serem aproveitadas intensamente para que não se possam apagar.
Boa leitura!

1. Tenacidade das Palavras - Tchaka Wa Nazaretha, fale um pouco de ti, quem és, de onde vens e para onde vais.
Tchaka Wa Nazaretha - Eu sou um artista multifacetado, poeta, declamador, escritor, letrista e rapper. Venho dos becos recônditos de um grande bairro chamado Chamanculo; é por lá onde nasci e cresci orgulhosamente. Para onde é que vou?!! Realmente, tenho uma bússola para levar a minha poesia bucólica a uma dimensão internacional. Eu vou para a diáspora, pois, a minha poesia não se pode limitar dentro daquilo que é Moçambique ou dentro daquilo que é Maputo e dentro de gente que compreende o Changana. A minha poesia tem como direcção, tem como bússola, tem como meta atingir os sentimentos, em algum momento os de gente de fora, os de gente que não fale e nem compreende o Changana. É por aí que a minha poesia vai.

2.Tenacidade das Palavras - Antes era Tchaka WA ka Bantu e agora é Tchaka Wa Nazaretha. Qual foi o motivo desta mudança de pseudónimo?
Tchaka Wa Nazaretha - Eu sou da opinião que o artista, o poeta assina com vários pseudónimos tanto quanto é legítimo; razão pela qual o Tchaka Wa ka Bantu não deixei de o ser, mas somente é uma assinatura que agora não estou a usar, agora estou a usar o Tchaka WA Nazaretha, que também numa outra oportunidade poderei usar um outro para assinar os meus textos. Estou a dizer que uso muitos pseudónimos, tanto que uso "Muthlokoveteli Wa xingualaguandza" (poeta trovão), já fui "Mestre Tchaka", agora estou aqui a usar o Tchaka Wa Nazaretha.

3. Tenacidade das Palavras - Como e quando a poesia surgiu na tua vida?
Tchaka WA Nazaretha: Nos anos dois mil eu fazia o RAP que é o Ritmo Arte e Poesia; Fi-lo sozinho, mas também cheguei a fazer uma dupla com o Big L. Mais tarde em 2007 decidi abandonar o RAP e desde então passei a dedicar-me somente à poesia declamada.

4. Tenacidade das Palavras - O que significa para ti "ser poeta"?
Tchaka Wa Nazaretha - Ser poeta é realmente ser um pensador com asas para voar o mundo.

5. Tenacidade das Palavras - Escreve e declama somente em Changana?
Tchaka Wa Nazaretha - Faço em Changana, mas também com uma pretensão de dizer a poesia em quase todas as línguas deste mosaico linguístico moçambicano. Falo das línguas tradicionais, as línguas autóctones, em algum momento essa é a visão: dedicar-me somente a poesia em línguas tradicionais.

6. Tenacidade das Palavras - Quando começou a escrever, já fazia planos de seguir a carreira?
Tchaka Wa Nazaretha - Na verdade depois do primeiro recital não mais quis parar porque tive uma receptividade afável do público.
7. Tenacidade das Palavras - Qual é a sua principal inspiração para escrever?
Tchaka Wa Nazaretha - Não tenho algo fixo para escrever mas agora olho mais para o que tem a ver com evangelho.

8.Tenacidade das Palavras - É noctívago ou só cria/escreve à luz do dia?
Tchaka Wa Nazaretha - Escrevo mais de madrugada.

9. Tenacidade das Palavras - Quais são os autores e livros que te influenciaram?
Tchaka Wa Nazaretha - Um deles é o livro intitulado Nghozine pertence ao escritor Bantu Manhiça.

10. Tenacidade das Palavras - Tem um livro/Cd publicado/Editado?
Tchaka Wa Nazaretha - Ainda não, mas tenho no baú a obra Mabolela ya nkhatxu (Fim da historia) e um áudio poético em homenagem ao ex presidente Chissano.

11 Tenacidade das Palavras - O que retrata Mabolele Ya nkhatxu, e quando estará disponível?
Tchaka Wa Nazaretha – É uma mistura temática de amor e intervenção social. Quando???? Promessas não se cumprem e dívidas não são pagas, deixo tudo na razão do tempo

12. Tenacidade das Palavras - Olhando para o cenário da literatura moçambicana, será que é preciso ser muito perseverante para ser um escritor e publicar um livro?
Tchaka Wa Nazaretha - Obviamente, publicar nunca deve ser de noite para o dia.

13. Tenacidade das Palavras - O que espera conseguir com a tua poesia?
Tchaka Wa Nazaretha - Tocar almas com a melopeia pelo mundo todo.
14. Tenacidade das Palavras - Qual é o poema que mais te orgulhas de ter escrito?
Tchaka Wa Nazaretha - Todos tenho orgulho deles, mas o Hosi Nyamutla ndza pfumela ( meu senhor, hoje aceito) é uma identidade por ter conteúdo evangélico.

15. Tenacidade das Palavras - Quais são os teus passatempos preferidos, além da escrita?
Tchaka Wa Nazaretha - Ouvir uma boa música, namorar e passear.

16. Tenacidade das Palavras - Qual é o Conselho que deixas para os novos poetas que tem surgido diariamente no nosso país?
Tchaka Wa Nazaretha - Que leiam mais livros e que produzam mais obras em línguas nativas moçambicanas.

17. Tenacidade das Palavras - Defina Tchaka Wa Nazaretha em 4 palavras!
Tchaka Wa Nazaretha - Louco, frustrado, teimoso e persistente.

  •  Link para baixar a declamação do Tchaka Wa Nazaretha. Intro no álbum do Gasso.


  • Link para baixar a declamação do Tchaka Wa Nazaretha. Mutxatu (casmento).







Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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