Entrevista com Pré-Destinada [ser poeta é assumir a veia da demência]




Entrevista a Pré-Destinada, mulher que acredita que a arte transcende as fronteiras do género, sendo assim se considera "poeta", não "poetisa". Além disso, sublinha que, ser poeta é assumir a veia da demência; ter orgulho de ser um louco assumido e sem receio de intervir para o que for necessário.
Pré-Destinada, ­é uma jovem viciada em ler, ousada ao declamar e que se derrete quando dedilha as teclas do piano. É apenas uma moça dominada pelo desejo de expor os silêncios do mundo e seus prazeres em apenas um pedaço de papel.
É membro do Movimento Literário Kuphaluxa, membro do Circulo dos Escritores Moçambicanos na Diáspora, e fundadora da Revista Literária Samurais - RELISA.
É Vencedora do Prémio Literário a Galinha pulando Brasil 2012 e de menção honrosa no Premio Literário Nosside 2015, menção "particcolare".
Participou de varias antologias e agendas Literárias: Antologia a galinha pulando, antologia universal Lusófona Rio dos bons sinais, Revista rio dos bons sinais, Revista Licungo, antologia dos silêncios que cantamos, agenda Manguana 2013, 2014, 2015 e 2016.

Entrevista com Pré-Destinada [ser poeta é assumir a veia da demência]
Entrevista com Pré-Destinada [ser poeta é assumir a veia da demência]



Tenacidade das Palavras: Pré-Destinada, fale um pouco de ti. Quem és, de onde vens e para onde vais.
Pré-Destinada: Pré-Destinada, pseudónimo de Amélia Margarida Matavele, 25 anos de idade, nasci e cresci no Bairro do Aeroporto B. Sou licenciada em Ensino de Química e gestão de laboratórios. Gosto de ler tudo desde os livros às ocasiões da vida, as simples imagens e até mesmo a paisagem. Sou amante da escrita e apaixonada pelo som do piano, para mim nada seria mais excitante que um pedaço de papel branco acompanhado de uma caneta.
Para onde vou? Almejo desvendar os segredos do silêncio, onde há silêncio, é para lá que vou.

Tenacidade das Palavras: Como e quando a poesia surgiu na tua vida?
Pré-Destinada: Quando criança meus pais sempre me ofereciam livros, a maioria era da colecção Tan Tan da Angelina Neves e assim fui ganhando o habito da leitura; depois fui lendo Calane e Craveirinha, e consequentemente apaixonei-me pela poesia. Há onze anos escrevi o meu primeiro poema exactamente a 8 de Dezembro de 2006, data do meu aniversário, o poema tinha como titulo "Tempo".

Tenacidade das Palavras: Quando começou a escrever, já fazia planos de seguir a carreira?

Pré-Destinada: Comecei a escrever por prazer de despir minha alma num papel, sem intenção de seguir a carreira. Decidi segui-la quando conversei com os escritores Juvenal Bucuane e Calane da Silva, que me incentivaram a coleccionar meus poemas e divulga-los. Isso em 2011.

Tenacidade das Palavras: É noctívaga ou só cria/escreve à luz do dia?
Pré-Destinada: Escrevo a qualquer hora e em qualquer lugar.
Para mim não há hora, porque a inspiração, a meu ver, não deve ser segurada.
Tenacidade das Palavras: Qual é a sua principal inspiração para escrever?
Pré-Destinada: O silêncio e a solidão inspiram-me.
Tenacidade das Palavras: Quais são os autores e livros que lhe influenciaram?
Pré-Destinada: Calane da Silva "Os Meninos da Malanga", J. Craveirinha "Xigubo, nkaringana ua nkaringana, Maria’’;  Mia couto quase todas as suas obras, Eduardo white, Noêmia de Sousa, Jorge Amado Fernando Pessoa e Drummond.
Tenacidade das Palavras: Tem um livro publicado? Qual?
Pré-Destinada: Sim. É Xitshuketa, editado e lançado pela Editora. CEMD em Dezembro de 2015 em Lisboa.
Tenacidade das Palavras: Qual é o tema central desse livro e onde pode ser adquirido?
Pré-Destinada: A busca pela identidade e o amor pairam nas páginas desse livro. Neste momento o livro esgotou. Entrarei em contacto com a editora para uma segunda edição, devido ao número de leitores que procuram pela obra.


Tenacidade das Palavras: Olhando para o cenário da literatura moçambicana, será que é preciso ser muito perseverante para ser um escritor e publicar um livro?
Pré-Destinada: É preciso ser perseverante na leitura para se tornar um homem sábio e culto, o vulgo intelectual, para conseguir ler diversas culturas e as viver, para rodear o mundo sentado numa poltrona; Já para ser escritor e publicar é para mim uma pergunta difícil de responder.
Tenacidade das Palavras: Você tem algum projecto novo ou está planejando algo para o futuro?
Pré-Destinada: Tenho sim, um deles é a Revista Liberaria Samurais - RELISA. Da qual sou fundadora e almejo que esta venha a ser um dos melhores meios de divulgação da Cultural no País. Tenho também um livro quase pronto, "Trechos solenes da minha solidão" é Poesia também e um romance ainda sendo lapidado intitulado "1 de Abril"
Tenacidade das Palavras: Qual é o Conselho que deixas para os novos poetas que têm surgido diariamente no nosso país?
Pré-Destinada: Em todos anos conscientes da minha vida aprendi que os livros são os melhores amigos que podemos ter, é tremendo dizer isso mas a leitura e a escrita são almas gémeas. Leiam, até não poderem mais, leiam até esgotar e enquanto tiver uma página não lida continuem lendo e se tiverem lido tudo releiam ate encontrar no livro a alma do Escritor.
Tenacidade das Palavras: defina "Pré-destinada " em cinco palavras!!

Pré-Destinada: Em cinco palavras!!!,  misteriosa, batalhadora, extrovertida, amável e ousada.



Sou barro

Se barro não fosse
seria sabão
sabes tu,
lambia-te o corpo
Despindo-te a alma,
Insinuava as piores práticas
Para que de mim não te afastasses

Sou barro
Sonho esbarrado
Velando pelo novo amanhecer
Nada te posso prometer.

Pré destinada
In Xitshuketa

Amar é voar

É explodir, é sinónimo perfeito
É doçura na amargura de pensar em não perder
É domar ferras em alguém
É sufocar limites extremos
Lutar com o dia para que não anoiteça!

Pré destinada
In Xitshuketa

A timbila

Naquela noite
O escuro convidava-nos a celebrar os desejos
Desenhávamos nossos corpos
Nossas mãos eram pedaços de olhos
Que evadiam nossa indecência

A timbila dos meus olhos
Rimou com a serenidade dos teus lábios
O roncar dos nossos desprevenidos lábios
Autorizou-me a deliberar o grito dos bichos

Pre destinada
In Xitshuketa

Arte

No umbigo do mundo
Há tambores flutuantes
Na cantiga das raças!
Morram diversos tumores!
Morre a arte
Nasce a luxúria

No umbigo do mundo,
Línguas correm ao encontro de notas...
Mas, o que é o metical, senão uma obra de arte?

Pre destinada

In Xitshuketa

Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

2 Comentários

  1. Tenho o livro Xitshuketa da Pré-Destinada, e é com alegria que recebo esta entrevista e também da criação de uma revista RELISA, focada na divulgação de actividades culturais. Muita força nesta caminhada. Um forte abraço.
    Leopardo!

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