O Íntimo de um Ser Solar - II

 O Íntimo de um Ser Solar - I - Aqui

O Íntimo de um Ser Solar - II
 O Íntimo de um Ser Solar - II


Quero pertencer ao mundo da poesia dos afectos. Da poesia da fé. Da poesia da alma. Sinto a poesia de todos os poetas moçambicanos e africanos de outras gerações. Sinto-a com muita intensidade. Sinto-a sozinho e guardo-a no meu peito. Guardo-a na estrutura do meu viver. Escrevo o Índico nos sonhos de todos os homens e mulheres que amam a minha terra e o meu povo. Agarro os raios do sol. Escrevo o baile, a dança, toda a coreografia solar. Busco conhecer também a essência das cores e das asas das borboletas. Sou famoso pela maestria de escrever o rio moçambicano e o mar africano no leito da memória e do mapa do mundo. Escrevo as águas onde nascem as sereias da minha terra. Na correnteza dos dias, ensaio um sorriso para as árvores, arbustos, e plantas que me olham no fundo dos olhos. Caminho sobre a pele nua da ilha de Moçambique. Falo com todos turistas sobre o sol da minha terra, seu brilho monumental, sua força incomparável, seu calor impiedoso. Na ilha de Moçambique, os olhos das pedras e das areias da praia têm vegetação. O sol moçambicano é tão belo, e ilumina o corpo da praia, das águas, do mar, dos pescadores e de todos telhados da cidade. Será que o meu povo está ciente do amor que sinto por ele? Este belo sol de Moçambique vive despertando poesias, e africanidades em minha alma. O que me alimenta a alma é a minha matriz moçambicana e as minhas raízes africanas.


As formas do mar florescem em mim. Tenho feições de aves, rãs, e árvores. Eu gostaria de escrever um arco-íris usando o fogo e o vento. Tenho diante de mim uma nuvem grávida de chuva e uma semente solta dentro da barriga da terra. Faço um poema para as minhas plantas, e para os meus gatos. E nos domingos de chuva, sigo os meus sonhos na varanda do horizonte da vida. Escrevo o meu destino na poesia das manhãs frias. Amo ler crónicas de Mia Couto. Tenho vários orgasmos mentais na rua do meu pensamento. Tenho tanta sede de um mundo puro. Tenho muita sede de uma humanidade com bons hábitos e que respeite o sagrado. Por isso, sinto-me no direito de escrever pela reconstrução do mundo. Os meus poemas não estão nos meus livros, estão em mim.


De súbito, sinto a alegria e a felicidade de todas as plantas do mundo. Volto ao lugar de onde vim. A terra gira. O amor acontece. Dentro de mim, há anjos por toda parte, fazendo todo tipo de arte. Eles estão fazendo poemas e poesia. Minha mãe me ofereceu as vestes da terra. Meus olhos cheios de vida. Meu coração cheio de encanto. Minha alma toca um piano ao cair da tarde no meio do curso das águas e no meio do canto dos pássaros. Há uma parte de mim habitando em um rio sujo e mestiço. Alguns gatos estão correndo pelos muros da minha voz. Outros gatos estão dormindo na varanda dos meus olhos. A poesia existe em todas as coisas e lugares, ela existe nos devaneios doces e profundos. Sou poeta pela natureza e pelo cosmos. A minha poesia é fruto da sensibilidade da minha alma, da imensidade do belo.


Por Morgado Mbalate


Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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