O Presidente num bar

Presidente

A gravata estava amalfanhada, mas era presidencial. As palavras não soavam a um frequentador do bar.  Não fluíam  como um bêbado normal. Ninguém ou poucos suspeitaram, pois o disfarce foi bem planeado. Começou, aos poucos, a comportar-se como alguém que queira dar um  Informe Informal à Nação. Dirigiu-se a uma pequena mesa e tirou do bolso um rabisco. Ao introduzir o informe com a palavra - Camaradas. Um bêbado atento, decidiu passar-se por um segurança. Ordenou silêncio e o Presidente começou com Informe Informal à Nação:

"São norte americanos da vigésima categoria. Não falam inglês, francês e sequer espanhol. São pesquisadores séniores, mas depois das teses defendidas para títulos de mestres ou doutores, jamais colocaram os pés ao serviço da ciência. Até é sorte ter gringos mestres e doutores, esses,  pelo menos, inventam com algum conhecimento de causa. Mas transformam-na. Não estão interessados, tampouco, em moldar, debater ou propor. Os americanos de vigésima categoria são capazes de forjar a sua própria morte para ressuscitar em praias de Bilene, Tofo ou com mais ousadia em Emirados Árabes - Dubai.

Esses, na verdade, são mercenários disfarçados - conhecemos. São pseudos em toda actividade profissional. São pelo povo, mas usam-no. São pela democracia mas debaixo das suas secretárias tem munições para derrubar qualquer inimigo do desenvolvimento pessoal. São gringos que costuram as palavras em seu benefício. Vivem por aqui  fazem braço de ferro em nome da democracia. 

Quem é pior? Nós ou eles? Quem inventa demais? Nós ou eles?".

No fim do Informe, por minutos, ouviu-se murmuros de que era um sósia do Presidente. A maioria, já com  cevada no organismo, dizia era o próprio Presidente disfarçado. O bêbado que se fez segurança foi promovido a Assessor de Propaganda.  Dos bêbados, há quem, sigilosamente, fez um vídeo amador do  Informe Informal à Nação. As televisões e blogues replicaram a notícia. Os acusados de gringos ou americanos de vigésima categoria, afirmaram que, a ser o presidente, é a prova inequívoca de que o país precisa de estrutura. Seguiram-se publicações de repúdio à calúnia e difamação. Imprimiu-se camisetas com slogan - Presidente 100 Juízo, FORA!!

Ninguém foi assassinado, mas o país já estava morto.

Por Jerson Anonimário 


Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

Enviar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem