À chegada, perguntou-me se eu era paciente. De que paciência se referia? Ripostei. Ela argumentou que a paciência faz parte do ser. É também uma forma de identidade. Sem querer discutir uma palavra, eu disse, com receio, que não era tão paciente. Sentei-me num sofá bordado de Bob Marley e ela tinha já lido os livros de que estava à procura. Não tinha prateleira, amontoava os livros por ordem de gosto. Os de cima eram supostamente os mais importantes. Trouxe-me uma água num copo minúsculo e eu disse que preferia começar pelo cigarro. Ri-mos e fomos fumar na varanda.
A Sofia perguntou-me o que eu pensava sobre o pensamento africano e conhecimento no geral. Na verdade, os debates me enojam. Eu, apenas gosto das pessoas que debatem, principalmente as mulheres. Debater nos dias de hoje é como falar de Cristo para muçulmanos. Não a respondi de forma rude. Não fui verdadeiro. Eu disse que há, infelizmente um pensamento desvalorizado. O conhecimento das massas. Não quis citar mas logo depois, ela falou-me de Boaventura de Sousa Santos e, com os dedos apontados nos lábios introduziu o cigarro na boca e disse - Sociologia das Emergências ou Ausências.
Na conversa anterior eu andara com a mão no bolso e a outra assegurava o cigarro. A Sofia afirmou que eu já revolucionei a nova geração de fumantes. Ela nunca vira alguém a fumar com a outra mão no bolso. Eu estava com as partes íntimas levantadas. Rimos. Finalmente, aceitei a água e tossi.
A casa da Sofia ficava no 4º andar e era espaçosa, mas tinha apenas um compartimento cuja dimensão não consegui examinar. Aliás, havia compartimentos mas sem as paredes que os dividissem. A Sofia disse que se sentia mais confortável conversando no quarto. Estendeu-me a mão e caminhánhamos.
Falámos de Fanon, do capítulo que ela propusera, mas o quarto era como se fosse uma arma que me proibisse de pensar. Ela também suava pelo nariz e tocava frequentemente nos cabelos. Reclamámos de calor e em minutos entrámos na banheira. Imaginar e ver são duas realidades distintas. A imaginação enerva e gera inquietação do realizar. Mas o ver ou vivenciar é ainda pior porque há riscos de se viver com essa memória. O corpo da Sofia superava a sua intelectualidade. Reparámo-nos e ela perguntou-me a idade do meu pénis. Para ela os órgãos genitais não nascem no mesmo ano com o ser. Eles têm idade própria, o dia ou o momento em que descobrem o orgasmo - Nascem. Rimos.
Saímos da banheira e, quanto a mim, morria de ansiedade de descobrir a idade do meu pénis. Por fim, a Sofia ajoelhou-se, quase próximo ao meu pénis, e disse-me que devíamos parar de ler Fanon porque os seus livros não conhecem a essência do corpo. Sugeriu D.H Lawrence. Saiu e foi à sala e voltou com um livro e usou-o como taco para bater suavemente na minha parte íntima. Era uma ordem para que eu vestisse e voltasse à vida, a um mundo sem excitação por promessas de imaginação.
Jorge Azevedo Zamba