O. J. Guido |
Há muito tempo venho pensando nisto: o mundo seria melhor se cada pessoa cumprisse a sua responsabilidade, que existissem leis bem claras de quem é responsável por quem e as suas modalidades. Aí as pessoas não viveriam de favores. Porque favores um dia serão exigidos, enquanto responsabilidade, não.
Responsabilidade é uma obrigação. É o dever de arcar com as consequências. Está ligada à filosofia moral, à lei, à ciência social.
Digo, se se definisse o lugar, os limites e se procurasse métodos eficazes de assimilar e fazer assimilar as responsabilidades, o mundo seria um lugar melhor. E essas responsabilidades devem ser observadas como leis naturais e ao mesmo tempo positivas que norteiam a nossa vida. E com isso, todos sabermos ao certo quais são as responsabilidades de um e do outro, e consequentemente os direitos.
Venho pensando que muitos arcam com as suas responsabilidades mas pensam que estão fazendo favor. Arcar com a responsabilidade não deve ser visto como um favor. E outros não o fazem pois não sabem que são responsáveis por fazê-lo. Ou simplesmente negligenciam porque não haverá uma instituição ou órgão normativo a observar pelo incumprimento do mesmo, ou a sociedade concebe como algo “normal”.
Ora vejamos, quem engravida deve esperar responsabilizar-se pelo filho – significaria educá-lo, alimentá-lo e formá-lo até uma certa idade que se julgue terminada a sua responsabilidade com ele. E isso não deve ser visto como um favor, ou ao filho, ou ao marido, ou à mulher.
O filho não pediu nascer, nem exerceu algum esforço para tal, o marido não fica grávido, e a mulher não engravida sozinha. Deve ser visto como um sistema de responsabilidades.
E deve-se definir de igual proporcionalidade qual obrigação os filhos têm para com os pais. Quando inicia a obrigação, e quando termina. Não deve ser visto como um favor cuidar de um pai ou de uma mãe. Deve ser visto como uma responsabilidade.
A obrigação do servidor público para com os cidadãos e os cidadãos para com o servidor público, ou para com o sistema de gestão da coisa pública.
E não romantizar a obrigação de um e do outro. O que deve ser feito, deve ser feito, e bem feito. E toda uma sociedade e todos os vários níveis sociais devem estar alinhados em um sistema prontamente bem definido. Conhecer-se as entradas e as saídas. E se estar consciente de que nesta fase são entradas e noutra serão saídas.
Talvez seja isso que a Bíblia está a nos ensinar em todos esses vários e longos processos de civilização:responsabilidade. Porque com ela vem a bondade para com quem se é responsável. E o fazemos convictos porque alguém é responsável por nós.
As empresas para com o meio ambiente, e o meio ambiente para com as empresas. Deve tudo ser bem definido. Para que as empresas não pensem que estão fazendo algum tipo de favor ao cuidar do meio ambiente, mas sim cumprindo uma responsabilidade.
E a cultura? Quem é responsável por aqueles que tocam, cantam, dançam, escrevem, pintam, esculpem? As empresas, as sociedades e organizações, assim como o sistema de gestão da coisa pública? Quem?
Há empresas que pensam que fazem algum favor ao financiar algum artista para fazer a sua arte ou alguma outra actividade cultural. É importante que se saiba quem é responsável por estes. Saber-se e saber-se bem, para que todas as partes saibam das suas responsabilidades. Para que este mundo não seja guiado por favores. Para que o artista plástico não encha a sua galeria com pinturas da cara do PCA de uma empresa que o financiou. Que esta geração não tenha nomes ou apelidos ligados aos Favores.
Acredito que o mundo seria melhor se cada um soubesse da sua responsabilidade e cumprisse na íntegra. Pois todos estamos em um sistema. Um sistema dinâmico.
E se Deus é responsável pelo Homem, essa responsabilidade deve ser visível, “tangível”, e concreta. Com todas as modalidades bem definidas e as suas contrapartidas. Para que o Homem não viva de favores a Ele. E, com isso, não se tenha ambiguidades na forma de cada Homem ser responsável por Ele.
Por O. J. Guido