1.
[...]
Este lugar ermo erval
me lembra o seu riso
esplêndido sobre as acácias
seus cabelos afros e
soltos
onde os afagos se
polarizam
Seus olhos símiles
na frialdade das
manhãs em nossa casa
a me exorcizarem os
demônios pueris
os dedos amputando o
fumo dos cigarros
para dar sonhos aos
beijos,
também os amo,
tal como
perdidamente amo todo seu corpo angelical
me apedrejando o
sangue
que costuma se gabar
na minha boca.
2.
[...]
Teus cabelos de
cróceos arvoredos
sobre minhas mãos a
te vasculhar os afagos
estirada no meu
peito, tão dulcíssima e belíssima,
fúlgida, prosaica e
garbosa,
deixas encantar a
mesopotâmica alma,
teus lábios de tinta
roxa como pétalas colmadas
presos nos meus
dentes e por eles mordidos,
nascem no entanto
beijos húmidos espantando as aves
que tripulam por
debaixo dos nossos umbigos
de vozes quase
ignotas
com as quais acendem
as sombras dentro dos olhos
tuas mãos, agora,
molhadas sobre as bordas do meu cangote
buscando as minúcias
do fogo laminante
E...
teus trevosos dedos
galopando a sete pés
como corcéis em uma
planície tingida de pedras e arbustos
chegam por fim ao
êxtase do gomo e do fruto.
3.
MY SWEET DARLING
Desço por entre teus
jucundos lábios
até aos precipícios
resguardados dos teus mais profundos recintos,
aves de água que nos
despem a pluma dos ombros,
cálidos gemidos de
ossos,
ancas ao rebuliço
dos impecáveis silêncios
umbigos em afoitos
debruços
nada é para sempre
my darling, nada!
nada deve ser doce
quanto o sangue que te corre,
em tétricos revezos
de sombras, eis-me aqui,
outra vez teu único
homem e macho,
a morder-te os
postiços sabores da tua boca,
e sem deixar
vestígios de dor, a morrermos como pioneiros nessa arte.
4.
LABIRINTOS
(à minha esposa que
também é minha amante)
Eu busco em ti a
clemência dos aromas
com meus dedos de
água perdidos na tua boca
e teu sorriso a
disparar em sangue volátil
como um corpo em
chamas
E... tu ao pé dos
labirintos escuros e côncavos
a me sussurrar em
dúlcida cavalgagem sobre teu corpo resoluto
(Não sei por que eu
te amo, — tu dizes, a chorar de prazer...)
Na maresia das
tortuosas palavras
pedes-me o calvário, pedes-me a fornalha ardente, pedes-me amor
arrastas-me pelos teus cantos enigmáticos como um biltre
sobre a planura de
uma corja de sombras e saliências
ecoas ainda um
gemido ensurdecedor pelos olhos corcovados
Eu...Ah! Com minha
mão bandida, sem escrúpulos
a se deleitar em
anexos umbrais na poça húmida
em que me basta o
perfume da tua água oleosa.
5.
EU, O TEU AMANTE
Amor! abra-me a
porta...
Sou eu. O teu
esperado amante!
Este cavaleiro
desprovido de espada e sem o fogoso corcel,
quero morrer no teu
corpo abstrato
acender outra vez
os meus dedos sobre
a tua fogueira líquida
e ver o fim do mundo
pela janela dos teus
mimosos olhos
como quem espia
os crepúsculos
mágicos de Chamissava
quero em ti me
prender como brasa viva
a te executar os
frívolos sabores...
Ainda navegar no teu
pomar alvorecido
cuja poça de água
refresca-me a boca
e em tuas cochas
relutantes
buscar o meu trono
absoluto.
6.
[...]
(Para minha esposa)
Cavo até ao fim o
mar que se abisma no teu imo,
te desprendo todos
os cansaços das pernas,
depois te desnudo os
lábios como quem parte em seus próprios devaneios,
enlaço na tua boca
uma borboleta a gritar de medo
enquanto no escuro
eu costuro a tua alma despedaçada.
Finjo não saber o
teu passado, (também não me interessa),
recolho com os dedos
o sangue que dispara em volátil ressalto
para reescrever uma
crônica de superação e de amor,
te deixo fluir como
um gozo no auge do clímax
penduro nas minhas
costas o fardo pesado das dores
e te faço outra vez
seres mulher, —apenas a minha mulher.
Foi o
mesmo local onde se viu seu primeiro amor pela literatura a brotar, apoiado
pelos professores Alex Manuel Pene e Arlindo João Nhampossa, este último já
falecido. Anos posteriores tendo saído desta para a cidade de Inhambane com
finalidade de terminar os estudos e continuar com seus sonhos de escrever.
Participou
em vários concursos de poesia e declamação no que culminou em vários prêmios
“simbólicos” ganhos, sobretudo, uma viagem de férias para a cidade da Beira,
num evento criado pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano com
parceria de ONG’s.
Em
2011 formou-se como professor pelo Instituto de Formação de Professores de
Chicuque, tarefa esta que desempenha até aos dias de hoje.
Começou
a escrever muito mais novo como já tinha referido numa nota atrás, e continua
escrevendo e espalhando seu perfume nas letras, sinal deste feito é o livro que
ele editou com a Editora do Carmo (Brasil). Uma coletânea de poemas (O
PSEUDÔNIMO), o primeiro de muitos que estão por vir. Oxalá que volte em breve
resplandecer os olhos dos leitores por outros títulos que adormecem no íntimo
do autor.
Ficará
a dever como era o planejado publicar “MEMÓRIAS DO MEU PAI E OUTROS ESCRITOS DE
RESPLANDECER A ALMA” uma obra que interioriza os leitores em homenagem ao pai
do autor, Magaringane Tamba wa Bhele (Toninho como era tratado).