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A minha família é unida, amiga. Podes ter certeza, mas essa união não pode continuar até no sono. É que, devido à insuficiência de compartimentos dormimos com as crianças, miga. Já imaginas que temos que reter os gemidos para não acordá-las? A Dugongo é bem-vinda. Na verdade, eu já estava à espera que reduzissem mais o preço, miga. Mas, sabe, essas empresas, malta Limak, Leão, Cimento Nacional, andam numas reuniões para impedir o meu sonho de entoar hinos da revolução à vontade, com meu Pedro. E depois tenho novidade sobre o Pedro, miga. Juro, os homens, às vezes são cães. Mas enfim, deixemos essa conversa para depois. Não estou a tratar brincadeiras agora.
Agora, veja a planta da minha futura casa. Achas que com o preço anterior de cimento poderia conseguir erguer algo igual? Não havia maneira, miga. Tivemos de aceitar porque viver com os sogros, às vezes é uma sentença de morte emocional. Cá, pelo menos estamos à vontade de manhã, de tarde. À noite é, sinceramente falando, um demônio que nos assombra. É igual a uma viagem de My Love. Eu tenho de salvar essas crianças que, quando amanhece, às vezes imitam o que viram ou ouviram à madrugada. É que não temos como, miga. Olha a casa de banho, nem dá para fazer um simples banho.
Que deixem aquela empresa em paz. Que nos deixem seguir os nossos planos. Também temos direito à habitação. Isto não é casa, ainda, miga. Quer dizer, devemos reproduzir Chamaculos, Mafalalas nos bairros em expansão? O Pedro disse que, para o mês vai aumentar os compartimentos se o preço de cimento mantiver. Mas eu estou a pensar em castrar o meu homem. Eish, miga. O gajo não sossega. Enfim, como disse antes, não estou a tratar essas coisas. O Material de construção é um assalto à luz do dia, mas também gostar de coisas quando se é pobre é difícil. É o caso de Pedro. Se ele não fosse tão mulherengo já não estaríamos aqui! Eu disse que não estou a tratar isto, né? Desculpa, miga. É que não é fácil para mim.
A Dugongo está a combater essas casas my love's. Pela primeira vez começo a sentir os ecos da independência. Vamos torcer, minha irmã. Vamos irmã. Mantenhamo-nos vigilantes.
Por Jorge Azevedo Zamba