APANÁGIO
O apanágio dos homens
é fonte vã
esperando encontrar um Feiticeiro.
Dizem eles, no seu alegre canto,
que nunca tal pulhice viram!
Noutra margem, porém,
há um pranto de dama desposada!
DESTINO
Inexoravelmente como um veado
A paisagem é rápida fosforescência
Reflectindo meus olhos dolentes
Entre a ilha austera e a praia incerta.
METAMORFOSES
Em criança
Era eu exemplar humano
Só pensava com esperança!
Agora que sou grande humano
Só me preocupa o Dólar e o Rand.
AQUELE RIO...
Aquele rio que sonhei
Tinha as marcas do meu destino
Pequeno e intermitente
Vago e reticente
Tinha as bases do meu rastilho!
Aquele rio que construí
Tinha os rastos da minha vida
Mas não sei quem o secou
Não sei quem mo tirou
Só sei que alguém me roubou
E nunca mais pensou em me devolver!
TRILHO AZUL
No limbo silencioso
As mãos aciduladas
Devagam dentro do corpo.
O cigarro já não ondula o frágil milagre de carpas
Só o mar espreita o desejo
(Esse objecto de culpa)
na ciosa sintaxe extenuada
Candongados depois
nos dumbanengues!
* Estes textos foram cedidos pelo autor e
estão contidos na obra Lágrimas do
desencanto cósmico (Maputo, Ciedima, 2015).
Sobre o autor
Stélio Maperre nasceu em 1978, na Cidade de Maputo.
É escritor, activista social, poeta e, actualmente, exerce as funções de
Director Geral da firma OCSINAT LIMPEZAS SERVICES.
Iniciou a sua carreira literária nos
primórdios da década de noventa; mas somente no final da mesma, em 1999, é que
testemunhamos a sua primeira aparição pública, quando se estreia na Revista
Tempo com o pseudónimo Cácio Miranda, com o qual assinava seus contos e
crónicas.
Foi vencedor da “Primeira escrita”,
concurso de poesia denominado “A Palavra” realizado pela UNE (União Nacional de
Escritores) em parceria com o ICMA. Colaborou em peças jornalísticas e em
páginas culturais como Proler, Que Passa, Savana, Diário de Moçambique, Público.