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“Why?”. Com certeza este pronome interrogativo já assaltou inúmeras vezes o equilíbrio da tua consciência, tornando refém os pensamentos que não conseguem ignorar a inquietude dos olhos. As indagações sempre farão parte do cogito humano, por mais que não queiramos nos deleitar nesse processo que deu vida à ciência dos cépticos, elas sempre vão afogar o sistema neurológico nos abismos (in)tangiveis, pois a vida é feita de questionamentos que às vezes incomodam as entrelinhas do íntimo sacudindo os abismos que são incompreendidos por mentes extropectivas.
Há coisas que agitam ondas d’alma, mar boêmio que se entrega aos enfadonhos presos nas mentes lunares; há “nadas” que anseiam se tornar algo, mistérios que temperam as palavras dos poetas! Por que o mistério faz parte da vida? Por que a vida é um mistério? Será que o mistério é o ingrediente secreto que dá sabor ao antónimo da morte? Será que o desalento dá mais sentido ao amor? Por que as estrelas (isentando o sol) são mais nítidas nas noites d’inverno? E por que o sol é muito malandro no verão?
Várias são as indagaçõees que perturbam o equílibrio do cosmo, que o diga Stewart Sukuma na musica: Why. A solidão e a falta do alento desfilam a classe, mostrando que a existência não é feita apenas de alegria, às vezes precisamos analisar os acontecimentos ao nosso redor. Stewart e Coral Robert Gray, revelam as fragilidades existenciais que compõem o nosso dia-a-dia. Embora a composição carregue uma mensagem introspectiva e reflexiva, não deixa de ser um encanto para quem gosta de navegar nas sonoridades das notas do encanto azul. Numa composição jazzística que me fez imigrar para os sopros suaves do Freddie Hubbard na obra “fragile”, o keyboard em acordes melódicos descortina a alma ao alvorecer de um desabafo; desabafo esse que mescla um molho de sentires que refrigera o âmago e condena a consciência a vagar na orla das questões sem respostas. O grave do baixo como se respondesse a sonoridade produzida pelo homem das teclas pinguinzadas, dá voz ao seu instrumento montando uma cama perfeita para o drummer deleitar-se nos lençois do cool jazz, estilo eternizada pelo Miles Davis.
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“There’s man walking in street, he's looking for answers”, o enfado expõe-se e a tristeza faz da voz de Sukuma um veículo que carrega o peso dos “pecados” do mundo. O inglês tristonho, acompanha o passeio (talvez inconsciente) de um homem que busca respostas às coisas que lhe inundavam a "capacidade que o Homem tem de conhecer valores e mandamentos morais e aplicá-los nas diferentes situações da vida". A consciência é sem sombra de duvidas uma lata de lixo luxuoso, que não consegue ignorar os labirintos que os olhos compõem diariamente.
“Ingi kuhlupheka svisiwana... kupfumaleka voku la yesu, ku laveka nhlamulo...”, este verso carrega um sentimento mórbido condenando o desalento que muitas vezes é sentido por pessoas paupérrimas financeiramente. “Até parece que esses indivíduos fizeram mal ao ser divino”, por isso o autor num tom de desânimo espiritual afirma que a mão de Jesus anda distante desta gente cheia de crença que mingua nos fragmentos do sol. “Quando o desalento aperta, sempre buscam-se culpados para atenuar as dores que martirizam o âmago”. O sofrimento é deveras penoso, que a alma do “autor” procura por respostas para confortar a ânsia de um futuro risonho que se fragmenta a cada passo que damos.
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O afago das cordas metálicas da viola, acompanha surdinamente as lamúrias que não se deixam intimidar e ganham liberdade no poente das emoções incolores que brilham foneticamente. Até parece que Sukuma estava pressagiar o futuro, pois o momento que actualmente o mundo passa nos faz indagar tudo e nada: “why o Covid-19 assola o mundo”. E é nesses momentos de penúria global que a fragilidade humana se revela, e as indagões servem de refúgio para ocultar o medo gritante no nosso íntimo dando espaço às mentiras que manifestam-se no quotidiano para confortar a tempestade turbulenta do espírito. E a fragilidade muitas vezes dá vazão ao egoísmo: “We look., we look/we do nothing… then walk away”, salienta Sukuma acompanhado pelos coristas que enfatizam este sentimento que persegue o Homem desde os primórdios do universo.
A composicão vai-se desfiando e a inquietude de um homem indagativo se revela no tempero do coro confessionado pelas vozes dos coristas do Robert Gray, que causam enlevo ao ouvido: “why, imakamuni/ why, ku yencheka yini?”, essas palavras invadem o tímpano para confortar o espirito do Sukuma que se transfigura num menino perdido em meio a indagações herméticas.
Do princípio até o ocaso, a música revela-se uma vitamina indispensável para educar o ouvido a consumir alimentos (musicais) nutritivos; é indubitavelmente uma refeição de lamber os dedos e repeti-lo como diriam os marhongas: “Svinandzika hi kupindha”. De facto, “Why” não cansa o ouvido, pelo contrário é como refrescar-se na praia numa tarde escaldante, é prazeroso! Então, não se limite nestas míseras palavras por mim gatafunhadas, procure a música e forme o seu juízo. Tenha uma óptima escuta!
Por Arnaldo Tembe