SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2020
Quarentena era a palavra de ordem em todo mundo. As empresas preocupavam-se com as estatísticas e as pessoas, quase desesperadas criavam movimentos sindicais no momento em que os Estados subdesenvolvidos capitalizavam o COVID-19. As pautas jornalísticas eram rotineiras - Mais casos na Itália. A Organização Mundial de Saúde recomenda a África para se preparar para o pior. O meu cigarro ia se transformando em cinza e escapava das minhas mãos. Puxei o fumo para dentro e o Tablet já não tinha carga. Carreguei-o para saber ao certo o que me esperava para o mês seguinte. Peguei no telefone e cumprimentei a minha esposa que, em vez de dizer que me amava, disse que sabia que no momento em que falávamos, eu mexia no cabelo. De facto, o nervosismo desorganizava o meu cabelo com o apoio das mãos. Ela desabafou sobre as fragilidades do meu contrato e, pela primeira disse que se deu conta de que eu ainda não tinha emprego. Concordei enquanto lia as notícias online no meu Tablet. Primeiro caso na Uganda e Moçambique e a agitação nas redes sociais assumia contornos incontroláveis. As pessoas desajuizadas faziam comentários poucos inteligentes sobre Coronavírus e elogiavam o Donald Trump.
Cumprindo as recomendações do Presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, a empresa onde eu sou escravo decidiu suspender as actividades durante 30 dias, conforme sugeria o informe. Não havia cigarros que fizessem desaparecer o medo e a incerteza. Mesmo assim, saí e fumei quase uns três. O segurança obrigava as pessoas a lavar as mãos na entrada e saída da empresa. Nos prédios, os elevadores andavam desinfetados e, por medo da morte, as pessoas chamavam o elevador com o cotovelo. Não havia resposta científica e muito menos cristã para a situação em curso. Os boatos corriam e os leigos continuavam a ler notícias falsas no Facebook. Eu, todo cabisbaixo decidi chamar uma jovem e juntos arriscámos a primeira noite de quarentena. A noite foi perfeita e, à semelhança dos outros dias, beijámo-nos como dois loucos com órgãos genitais de ferro porque nenhum orgasmo esvaziava a vontade de continuar com o acto. Mas finalmente ficámos ensonados e já eram 5h30 da manhã. Pus os calções e ignorei a cueca abandonada no chão e acordei a jovem que parecia um peixe cuspido por um tubarão. Recolhi os preservativos e acompanhei-a. À volta lembrei-me que em um dia arrisquei três vezes com a mesma pessoa. Um de nós podia ter COVID-19. Fiquei desmotivado e comecei a coçar no cabelo cujo tamanho para o trabalhador dependente requere um corte imediato. Durante os beijos e com órgãos esfregando-se, obedeci a irracionalidade e tirei o preservativo por alguns segundos. Será que a engravidei? E se ela tiver Sida? A angústia sufocou os meus sentidos por consideráveis minutos.
Por Jorge Azevedo Zamba