Foto AQUI |
Diz-se que: “o primeiro passo define o caminho a se percorrer”. Várias são as pegadas que fazem um caminho, e às vezes o caminho é que faz as pegadas, que o digam os escritores nas suas criações. E quanto a música? Será que o acorde é que define o ritmo ou o ritmo é que define o acorde? Pouco importa. Não, acho que importa e muito.
A música é uma das manifestações artísticas mais belas do mundo, pois mescla um conjunto de sentires e sabores para qualquer paladar-auditivo, também serve de tela para expor os sentimentos. Será que é obrigatório um beltrano escutar um gênero musical? Acho que isso depende do estado do espírito; no meu caso, há dias que o ouvido decide escutar sons mais graves como da banda System Of A Down, principalmente a música: “Chopsuey”. E há dias que me deleito nas guitarradas suaves dos Scorpions.
As pessoas gostam de impor sabores nos paladares alheios; de uns tempos para cá decidi me libertar dessas correntes e viver a liberdade da diversidade musical que existe, pois as diferenças dão beleza ao mundo.
Um dia desses, o meu ouvido teve apetite de degustar um prato miscelânico de emoções sonoros, e “The Journey” caiu-me nas graças como a chuva que banha o chão empoeirado. Se tivesse que classificar cada composição que constitui o “The Journey”, me seria difícil, pois até então não consigo encontrar dígitos valorimétricos que se possam ajustar à mestria que foi despositada nesta obra discográfica.
Foto AQUI |
The Journey (ou “A Viagem”), assim foi nominalizado o álbum do etnomusicólogo moçambicano Moreira Chonguiça, e é sem sombra de dúvidas um projecto que foi construído com muita dedicação carregando caminhos fascinantes com paisagens inesquecíveis e indeléveis dignas de uma viagem de encher os olhos de lágrimas e lamber os dedos (neste caso de fascinar todo bom amante da música). Do "intro" até a última faixa, “The Journey” carrega em sua alma uma dose de excitação musical que seduz os ouvidos a quererem mais e mais, como um “coito” que desperta os músculos dormentes. É como se a obra tivesse sido masterizada com uma dosagem considerável de viagra musical.
A primeira faixa do albúm com o baptismo de “Sida Mata”, é um convite tácito a mergulharmos em nossos nós e reflectirmos acerca da doença que é (ou foi) considerada a maior epidemia do século, e que já dizimou milhares de pessoas em todo mundo, principalmente no continente africano.
O “intro” carrega na sua essência a sonoridade da flauta doce e do saxofone juntando-se ao fundo das vozes de algumas mamanas criando um encanto abrasador. Adentrando nos caminhos sonoros da “Viagem”, encontramos a música promocional do album, “360o (What goes around comes around), em que o protagonista mostra um fragmento de si e a intimidade que tem com o seu saxofone soprano; é como se o seu fôlego se estendesse pelas entranhas do instrumento dando uma carga vital ao mesmo, o casamento se alarga para a base feita pelo baxista, nos touchs do percussionista que mostra que apesar de não ser muito notado numa banda, o seu trabalho é um diferencial agradável, o tecladista também não deixa em dedos alheios as teclas do seu instrumento, a sutileza dos sons agudos dão um brilho fantástico na composição mostrando a vida que se forma quando as almas dos instrumentistas se encontram. Em seguida, como diriam os brasileiros: “há um entrosamento” entre as vozes dos coristas e a melodia que nasce no sax soprano, no bass guitar, na suavidade da caixa de Ré e dos pratos do baterista, “África and the Blues”, enaltece a positividade da existência, apagando da mente e dos olhos toda negatividasde que existe no mundo. A voz do saxofone e dos coristas alternam de forma sábia dando espaço para cada um brilhar; há que ressaltar que uma voz máscula dá um sabor picante no coro nos levando àquelas sonoridades do embalo caracteristico das baladas.
O “intro” carrega na sua essência a sonoridade da flauta doce e do saxofone juntando-se ao fundo das vozes de algumas mamanas criando um encanto abrasador. Adentrando nos caminhos sonoros da “Viagem”, encontramos a música promocional do album, “360o (What goes around comes around), em que o protagonista mostra um fragmento de si e a intimidade que tem com o seu saxofone soprano; é como se o seu fôlego se estendesse pelas entranhas do instrumento dando uma carga vital ao mesmo, o casamento se alarga para a base feita pelo baxista, nos touchs do percussionista que mostra que apesar de não ser muito notado numa banda, o seu trabalho é um diferencial agradável, o tecladista também não deixa em dedos alheios as teclas do seu instrumento, a sutileza dos sons agudos dão um brilho fantástico na composição mostrando a vida que se forma quando as almas dos instrumentistas se encontram. Em seguida, como diriam os brasileiros: “há um entrosamento” entre as vozes dos coristas e a melodia que nasce no sax soprano, no bass guitar, na suavidade da caixa de Ré e dos pratos do baterista, “África and the Blues”, enaltece a positividade da existência, apagando da mente e dos olhos toda negatividasde que existe no mundo. A voz do saxofone e dos coristas alternam de forma sábia dando espaço para cada um brilhar; há que ressaltar que uma voz máscula dá um sabor picante no coro nos levando àquelas sonoridades do embalo caracteristico das baladas.
Foto AQUI |
“Munganami” uma música para despertar a consciência dos jovens e não só; nesta faixa musical, Moreira empresta sua voz à uma das linguas vernáculas moçambicanas, mostrando que apesar de ser um cidadão do mundo, não se esqueceu das suas raízes ligadas ao povo tsonga. No “munganami”, ele encarna a personagem de um conselheiro mostrando que para além do entreternimento (como muitos pensam) a música serve para despertar consciências adormecidas pelos devaneios do cosmo. Os acordes produzidos pelas cordas nylon da viola namorando o agudo do piano na companhia do style jazz do baterista, levam-nos a navegar nas terras brasileiras ao encontro da Bossa-Nova num tempero jazzístico. A clarineta também nos acompanha nesta paragem brasileira.
Ngoma, uma música para deliciar e redeliciar os ouvidos; é uma composição digna de ser acompanha por uma refeição de mariscos contemplando a beleza das ondas da Praia da Macaneta ou uma outra qualquer que banha a orla moçambicana. O trompete é o ingrediente especial para este prato musical, e mais uma vez a voz do Chonguiça no sax é a cereja no topo do bolo. E para lamber os beiços auditivos o beat se extensiona no Ngoma II, onde Moreira mostra que tem um reservatório de fôlego para emprestar e dar ao seu soprano sax, revelando mais uma vez a cumplicidade que tem com o seu companheiro. É incrivel como ele afaga o instrumento, o mesmo o obedece como um escravo que obedece de forma dogmática as ordens do seu senhor.
“Simplicity”, de simples só o nome porque o beat é muito complexo, pois carrega na sua constituição as guitarradas das raízes do dance hall ou reggae jamaicano “entrosando” com a sutileza do bass guitar que vai marcando sua presença como se não quisesse aparecer, talvez tenha sido uma estratégia para não ofuscar o brilho do protagonista. Não tenho muito a dizer acerca dessa composição, pois é uma paregem que obriga o passageiro a contemplar a paisagem sem precisar do auxílio de um guia-turístico como forma de melhor aproveitar a beleza que o universo desenhou.
“The light”, a sutileza aliada ao encanto discreto enamoram esta paragem. A corista não deixou o trabalho nas vozes alheias, não se permitiu intimidar pelos “monstros” que a cercavam, fez valer o seu trabalho mostrando a beleza que encantou o Monstro a aprisionar Bela no seu castelo (risos). Com mestria, mostrou de facto que “a luz” era para ser iluminada por ela. A sutileza do trompete também deu um special touch na composição, e o sax não podia nos deixar nessa paragem sem marcar sua presença, seria um ultraje irrevogável.
“Mama’s cooking - Tacho da velha”, tenho uma certa reversa em relação a esta faixa musical, não me identifiquei com a melodia e nem com sonoridade, é uma das paragens que não faço questão de contemplar, prefiro continuar com o itinerário deixando os outros maximizarem seus apetites por descascar os contornos dessa paragem. Porém não deixarei de dar os créditos positivos ao protagonista, pois revela a grandeza que tem quando dá vida ao seu instrumento de sopro. Nesta composição, apenas gosto dos intervalos lúcidos do flautista.
Ainda nos devaneios da “Viagem”, Moreira nos convida a contemplar uma das paragens desta jornada; “StreetKids” começa de forma introspectiva como se o oxigénio estivesse em falta no diafragma do protagonista; Chongissa entra timidamente em cena como se tivesse a nos alertar que estamos a escassos metros do fim da nossa viagem. Mas essa toda timidez desvanece no “Street Kids part 2”, aqui ele volta com toda carga como quem diz: “pensaram que era tudo?”. Os sopros voltam a todo vapor afagando as sonoridades da timidez do baxista que cria uma base saudável de despertar interesse a qualquer amante dos sons graves.
Ancestrology, começa com as pinceladas vogais abrindo espaço para a estrela-maior brilhar sem que seja ofuscado. As sopradelas marcam sua presença como a trilha de um pé sujo nos azuleijos brancos. O tecladista não fica atrás, como uma marhandza que não consegue esconder os seus apetites em meio a um bolso engordecido de cartões para serem raspados, o touch jazzístico do homem das teclas piguinzadas vai dando intervalos lúcidos e esbeltos, a sutileza é o seu tempero mágico nesta receita musical. Os breaks do drummer complementam a beleza dessa música. E como os músicos estavam ávidos por penetrar mais e mais nas entranhas harmónicas dos seus instrumentos, “Ancestrology” ganha uma maximização evoluindo para “Ancestrology part. 2”. Nesta evolução, o pianista ganha protagonismo levando o espaço do sax soprano mostrando que o espaço que requeria no “Ancestrology” não foi ignorado, sua voz foi ouvida com sucesso. Deram-lhe espaço para maltratar seu instrumento e fascinar a nós que gostamos de contemplar solagens dos músicos.
“Just a thought”, a delicadeza dos slaps do baixista são notas introdutórias deste composição e o coro afirmando: nifikile (cheguei), é um subjectivo aviso de que o nosso condutor tinha conseguido atingir os seus objectos, que presumo ser de levar os seus passageiros às paisagens que teria percorrido previamente. Just a thought, é um pensamento que carrega muitos pensamentos na sua essência e para compreendê-las precisamos nos despirmos do pensamento para os pensamentos do autor, pois na tentativa de fazer esse exercício de compreensão fora do pensamento dele corremos o risco de nos afogarmos num mar de dúvidas infinitas.
“Personality and good looks”, é uma música miscelânica, uma mescla de sonoridades que gravitam em torno de uma personalidade e boas aparências que o autor quer nos transmitir através da sua voz e do seu companheiro fiél, o sax. Essa música carrega na sua essência um mix de vários ritmos mostrando que a literatura ritmada não é um campo estático.
“Mo’s journey”, um groove que revitaliza os cinco sentidos do corpo humano, pois é uma música que a considero uma trilha sonora para vida, nos levando àqueles momentos de redenção após um longo dia de trabalho ou da academia, a vontade de se refastelar no sofá pode ser acompanhada por essa música. Mo’s journey, na minha óptica pode ter sido o lampejo no fundo do túnel que deu vida ao Journey, algumas marcas desta música apontam para isso (na minha opinião).
“Undergraduate Standard”, a sede por nos encantar é mais nítida nesta composição, como um mancebo apaixonado que tenta se exibir a todo custo à sua pretendente. Nesta faixa musical, Moreira empresta seu sopro à clarineta para fazer o show e mostrar que apesar de não ter nos acompanhado de forma integral nesta “Viagem” a sua presença é digna de ser ovacionada. A clarinete aliada aos keyboards, a agudeza de espírito do bass guitar, aos touchs do perscussionista, dão um sabor distinto ao paladar auditivo de qualquer amante de boa música. O ritmo afro-jazzístico carregado pelos instrumentos, principalmente o piano numa base standard de jazz induze-nos a cavalgar em panoramas peculiares de inundarem o âmago de apetites insaciáveis no que diz respeito a arte e técnica de combinar sons de maneira agradável ao ouvido.
The Journey é sem sombras de dúvidas um itinerário que carrega em seu corpo almas inesgotáveis de sonoridades para saciar qualquer ouvido que gosta de ouvir boa música; não foi por acaso que esta obra discográfica leva o nome de “A Viagem”, pois cada fragmento que a compõe é um destino indelével que gravita na órbita da consciência. É uma obra atemporal, apesar de ter sido compilada na época contemporânea. Não sou um Otorrinolaringologista, mas recomendo esta obra discográfica para o equilibrio da tua saúde auditiva.
Por Arnaldo Tembe
Por Arnaldo Tembe