O melhor amigo do homem ja não é o cão é o telefone


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O homem nunca foi autosuficiente, ou seja, sempre precisou do outro para se completar e satisfazer o seu “espírito”. Revelam os estudos que um companheiro fiel é o que mais traz vida à vida emocional do homem. De lá para cá, o cão superava a presença de muitos seres semelhantes. Identificou-se como aquele amigo que, independentemente de qualquer situação está sempre para nós. Quem faria isso por nós? Se nas barracas, nas ruas e nas nossas casas, por conta de uma besouragem nos arrancamos os cabelos, nos despimos as roupas e até os segredos, entre "melhores amigos".
Dizia uma jovem, numa das festas, apresentando uma amiga à sua tia. - Tia, esta é a Roseline, minha melhor amiga, ela sabe "tudo de mim", mas não sabe que ando fisgando o namorado dela. Vou a nenhum lugar sem ela. Tudo pareceu maravilhoso para a tia e dona da festa. E elogiou a amizade delas. Enquanto decorria a festa a Rosilene pede por emprestado o telefone da amiga para mandar mensagem à mãe lhe informando que chegaria tarde, pois já eram 17 horas e a festa começava a ganhar vida. Enquanto escrevia a mensagem, recebe a do Leonardo, seu namorado. Ela teve a audácia de ler. Entre lágrimas teve que terminar de ler todo texto que dizia " minha atrevida, estou morrendo de saudades, se conseguires despistar a seca da tua amiga, me dê sinal, virei te pegar de carro e voltaremos a deixar tudo rolar no veículo tal como aconteceu a primeira vez”. Entre tapas e confissões terminou a relação que aparentava ser duradoura nos olhos alheios.

O Josemar, "grande amigo" do Lacatos, contribuiu negativamente para que o Lacatos perdesse o cargo de chefia e que ele fosse promovido. E mais, falou para a amiga da esposa que o Lacatos se esfregava com uma das suas secretárias. Já se sabe que depois do telefone, a mulher é mais rápida quando o assunto é encaminhar uma mensagem. A galantaria da esposa do Lacatos, cegava a amizade do Josemar. Ele via nela alguém para compartilhar a nudeza.
Ora, aquele cão que o deixamos na solidão para ir ganhar fora abraços falsos, ao retornarmos à casa, ele nos recebe com blandícia. Ele nunca fica bravo, está sempre para nós e para nos acautelar do inimigo. Durante a noite, ele zela pelo nosso lar. É mesmo o melhor amigo do homem. Ele consegue ser fiel a todos que o tem.
Com o tempo, o cão vem perdendo a sua preferência, a sua posição e o seu prestígio ao homem. Perde espaço para dar e receber carinho de quem o tinha como melhor amigo. Aliás, ele servia também como despertador e fonte de apoio para o homem.
Hoje o mundo do homem está centrado no telefone. Este ganhou a maior atenção do homem e passou a ser peça fundamental para a “sobrevivência” e loucura  humana. Quem é o homem que consegue ficar uma hora longe do seu telefone? É por isso que maior parte dos cães vira vira-lata, pois já foi substituído pelo telefone.
O telefone, além de arrancar a maior atenção do homem, guarda-lhe muitos segredos. Ele é mais que um(a) esposo(a), um pai e muito mais que uma mãe. Se ele tivesse consciência, saberia que tem com ele o melhor de nós. As nossas fofocas, os nossos encontros falhados, as nossas tranquibérnias, até as decepções.

O telefone ganhou o homem. Além de melhor amigo, ele é seu amor da vida. Muitos até abandonam a familia, seus filhos, seu emprego e a melhor refeição, mas nunca o telefone.
O telefone veio para substituir as melhores amizades, as melhores conversas com a família, os bons hábitos e até as normas de uma boa convivência. O homem, ignora as regras de transito e deixa à deriva a sua vida e de outras pessoas, só para dar atenção ao telefone. Nem se fala dos hospitais, onde a saúde dos pacientes tem menos prioridade em relação àquela conversa no whatsap e ou no facebook. Nas escolas, a atenção que se devia dar aos petizes é dedicada ao telefone. O mundo gira em torno do telefone.
A tecnologia veio para melhorar a vida do homem, mas parece que o telefone veio para desgraçar o mundo. Criar atrito entre os homens e cativar a preguiça mental.
São crianças, adolescentes, jovens e adultos que trocam o livro pelo telefone. E o mais agudizante é que não se aproveita a sua parte construtiva. Quanto melhor for a qualidade das fotos, mais amável é esse telefone.
E mais eu digo, se o homem pudesse virar telefone, o termo solidão virava a palavra por ele menos pronunciada.


                       Jonas Francisco Muchanga
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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