Vidro Rasgado – Epílogo

Vidro Rasgado – Epílogo
Vidro Rasgado 

Jorpa saiu apressado do edifício e foi desaguar no estacionamento e percebeu que a lona que cobria o Peugeot do Zé estava a beijar o asfalto. Ignorou o desaparecimento do automóvel e continuou sua caminhada ao encontro de uma linda senhorita que lhe esperava num Toyota Corolla Crystal light prateado.
- Conseguiste?!
A voz encantadora se vez ouvir seduzindo os ouvidos do Jorpa. Era da Angelina que tinha escapado da inexistência milagrosamente.


- Sim consegui, porém houve um imprevisto... - Instantaneamente o silêncio namorou seu discurso. - O Nevinga foi assinado! Não foste tu pois não?!
Angelina não se intimidou, olhou para Jorpa com um sorriso estampado no rosto.
- Nevinga fez muitos inimigos aos longo da sua vida, pode ter sido qualquer um, tu inclusive!
- Aaahhh! - Gargalhadou alegremente. - Pois é, pode ter sido qualquer um, mas...
- As suspeitas caiem mais sobre ti, pois estavas na sala dele...
- O facto de eu ter estado no local do crime a hora do crime não quer dizer que sou um criminoso, apenas estive no local certo na hora errada. E a senhorita onde estava?
- Pergunta o meu Corolla, te dirá!
- Não me venha com histórias...


Jorpa voltou a pegar o colarinho do cinto e mais uma vez descobriu que a sua companheira não o acompanhava.
- A Lucille anda a me trair! - Exclamou desapontado.
- Não. - Retorquiu Angelina. - Já não sentes a mesma paixão por ela. - Disse isso atirando-lhe a sua arma.
- Da próxima vez redobre a tua atenção... Quem sabe ela é que assassinou o Nevinga!
- Não fizeste tal ultraje? - Perguntou nervosamente.
- Quem sabe?!

Angelina limitou-se naquela fala, ligou o motor do seu veículo que apresentava ferimentos no seu corpo que advinham da chuva de balas que recebeu.
- Já sabes o que fazer com o material.
- Pois. - Afirmou Jorpa.


Angelina pisou o pé direito no acelerador e soltou a embreagem, a poeira acordou da letargia formando um nevoeiro e o Corolla desapareceu das vistas do Jorpa que contemplava fascinado aquele mini-espectáculo.
A noite adentrava-se nos confins do mundo acordando os seres notívagos, Jorpa estava no seu doce refúgio afagando a máquina dactilografa. O líquido salgado nascia na sua testa e desaguava num lencinho de mão que de dois em dois minutos beijava o rosto do Jorpa.
- Finalmente!
Suspirou dactilogrando o último ponto do documento, pegou no telefone que estava ao lado da máquina de escrever e discou alguns dígitos.
- Jornal Alvorada ao seu dispor! - Uma voz fina e sedutora atendeu o telefone.
- Como vais Luísa?
- JP... Há quanto tempo? Por onde andas?
- Cá estou,...Andei a procura de notícias e vos trago uma bombástica, assassinaram o delegado e tenho material que possa vos interessar.


A conversa rumou para horizontes elevadíssimas até o silêncio namorar os ouvidos dos interlocutores. Jorpa vestiu o seu sobretudo preto, pegou nos documentos que resgatara do gabinete do finado juntou-os com os papéis que tinha dactilografado e rumou ao encontro da Luísa.

Fim...

ARNALDO TEMBE

Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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