Vidro Rasgado - Capítulo 10

Vidro Rasgado - Capítulo 10
Vidro Rasgado - Capítulo 10
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Ansioso, Zé estava tranquilo e sereno esperando pela chegada da sua morte. Um tiro se fez ouvir, a bala ganhou liberdade. Zé sentiu um aperto no coração, fechou os olhos e disse:

- Eis-me aqui morte! - Com a voz abafada de certezas.

Sentiu o ar faltando-lhe no peito e ouviu um dos homens dizendo:

- Porquê fez isso?

Zé sentiu uma certa preocupação naquele tom de voz e mil pensares se lavraram em sua consciência.

- Estava a testar se a arma está em dia ou não. - Afirmou o homem com voz serena.

No corpo do homem vivia um espírito brincalhão, inquieto que estava sempre a meter os pés pelas mãos.

 - Não devemos dispersar a munição. - Advertiu o homem que carregava em sua alma o espírito de seriedade e profissionalismo no que fazia.

Apesar de estar num lugar escuro, os olhos do Zé brilharam como a luz do sol ao meio dia, afinal ele ainda pertencia ao mundo dos vivos. O disparo foi atirado ao ar. O aperto que sentira no coração, foi devido a falta da circulação do ar naquela caixa minúscula. Antes que o brincalhão fizesse asneiras, o homem sério abriu o capô apontando a arma no semblante do Zé.

- Saia com as mãos levantadas.

Zé levantou as mãos saindo daquela caixa e encarando os homens que tinham os rostos encapuzados.

- Comece a marchar para aquela casa. - Ordenou o brincalhão apontando com arma para velha cabana que estava a frente deles.


Zé caminhava com dificuldades, não sentia mais os pés por causa da dor criada por longos minutos da inércia. Parou para puxar o ar e uma voz acomponhada por um tiro ao ar lhe chicoteou os seus ouvidos.

- Marcha soldado cabeça de papel...

- Man, eu já disse para não gastar a munição. - Gritou o tipo sério.

- Está bem. - Resmungou o brincalhão.

Os homens continuaram a escoltar o Zé sob olhar atencioso dos canos das armas. O polícia deu quatro passos e caiu.

- Esse gajo vai nos dar trabalho. - Resmungou de novo o homem com espírito de criança em sua mente.

- Levante-o. - Ordenou o homem sério.

O homem voltou a resmungar indo ao encontro do corpo do Zé, quando tentou levanta-lo foi mobilizado por um golpe aplicado pelo polícia.

- Larga arma. - Zé ordenou.

- Não estás em condições de exigir nada. - Afirmou o chefe do outro homem apontando a arma para o Zé.

- Claro que tenho, passa arma ou mato o teu comparsa.

- Vá em frente. - Declarou o homem.

- Meu, passa arma para o gajo. - Afirmou o homem golpeado e o desespero estava patente no seu rosto.

O comparsa refutou a aflição do parceiro e disparou contra o mesmo.

- O que fizeste? - Perguntou o homem atingido jorrando sangue do seu peito.

- Me livrando do fardo. - Afirmou carregando a calma nos olhos.

O homem brincalhão sentiu a brisa do além soprar-lhe nas frestas do olhos. Zé sentiu em seus mãos o frio do corpo do homem e não tardou para o vento do além levar a alma daquele homem, deixando o peso do corpo fatigar-lhe que acabou perdendo as forças e o homem sério foi ao seu encontro, abaixou-se e disse:

- Pensaste que ias fugir?

O homem deu uma coronhada na cabeça do Zé, que acabou desmaiando. O homem transportou o corpo do Zé para o interior da velha cabana e o amarrou numa cadeira já pronta para o efeito. Depois voltou ao encontro do então parceiro e o carregou para as traseiras da casa, tirou o telefone do casaco do parceiro e ligou para chefe.

- Alô chefe, o embrulho já está no pacote.



Autor: Arnaldo Tembe

Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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