Da Cruz à Súplica Última

 DA CRUZ À SÚPLICA ÚLTIMA

Da Cruz à Súplica Última
By Joseph Jamar

Talvez o louco Nietzsche esteve sempre 

certo.

“— Deus está morto”

já nada jaz nesta vida. O sino celestial toca

ardentemente e as suas notas recolhem do silêncio a vida, à morte

pois, que anda nua e opróbria 


anda sobre as ensanguentadas vias com

amputados corpos à deriva e

com a incerteza fria na lúcida vida. Eu falo: que as ruas são hematófagas —


nutrem se da substância fundamental humana que atravessa a negra pedra do asfalto


Há no seu subterrâneo obscuro

púrpuros lençóis onde as almas

sufocam-se no seu próprio grito


já nada jaz nesta vida. E a cada brutalidade com que tudo culmina

emerge o último suspiro,


mas cada coveiro exausto do seu dorido ofício

e cada cruz cravada no cimo das cabeças: 

há mais sepulcros que a felicidade 


E já não há panos que enxuguem os lacrimais temporais. A morte, já é tão rápida que a idade, e ama a mocidade da carne


ama ainda a incerteza acampada nos campos da vida,

ainda ama a curta metragem com que se vive o instante. E o vazio é devorador no centro da alma dos que restam nesse amor


— mas nada resta. É está equação que é a vida, ainda que nos pareça longa a sua resolução


e de súbito algo a simplifica com uma 

violência severa

com uma ferida que nunca cicatriza.


Por Gibson João


Gibson João 

Gibson João, natural do distrito de Inharrime. Reside actualmente em Morrumbene (Inhambane), é professor; cursa o ensino de Biologia na UnISCED, poeta. É membro do Projecto Tindzila e da Associação Cultural XIKOMU.

Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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